sexta-feira, 5 de dezembro de 2008


Ontem consegui não cair na tentação de escrever estes sons dentro de mim. Apesar de achar que esta fonte está para secar, achei que ainda tinha para verter uma última vez. Por isso o fiz.

Certo dia o rei teve um Filho. E ninguém se atreveu a fazer dele humilho. O rei tinha casado com a mulher mais bonita da terra, dado que era rei e todas as donzelas queriam ser rainhas com aquele rei. Mas havia um segredo. A donzela era tão bonita que quando ela se apresentava, os pintores do mundo ganhavam inspiração. Sem coração. As marés vinham e iam ao sabor do vento e a lua ajudava a que o seu movimento fossem constante. As pegadas na areia apagavam-se, apesar de terem sido escritas -para sempre-. Pegadas de promessas. Estavam lá mas por as guardarem, com os olhos sentiam-se traídos, ao invés de as saborearem. Sem molhos. Por isso o rei casou e a rainha teve um filho. Passaram cinco anos desde o dia em que o rei à nova rainha se juntara, e o herdeiro do trono finalmente nascera. Tinha duas irmãs um pouco mais velhas. Tempos depois, o Homem chegou à lua e descobriu que a terra era mais água que terra crua. E surgiu a pergunta: -Porque não planeta água? Logo veio o velho e avisou: -o mundo agora é dos seus senhores e apenas onde eles vivem é aliciante, daí as baleias se refugiarem nas profundas areias. De grito constante. E as aranhas serem feias. Mesmo nas flores.

O menino era cego. Mas o rei tinha tanto orgulho no seu Filho que ordenou: jamais se fala do segundo sentido. Visto que tocar foi consentido. As manas trataram do Menino como delas, daí que cresceram envoltos em amor, apesar das meninas se parecerem com as aranhas, sem cor. O Menino não questionava, para ele bastava como qualquer uma delas cantava. As árvores regiam as florestas, quais imperadoras vestidas por escritores e o vento da lua fazia-lhes festas. O uivo dos lobos sentia-se por gerações, diz-se até que ninguém se aproximava à noite das vegetações. Mas o homem sempre se sentiu obrigado a quebrar tentações. O príncipe cresceu, sem nunca ouvir falar das marés nos olhos. Mas ele cheirava, ouvia e sentia. E a água sorria. O velho era um contador de estórias, alguém que sabia ler muito bem, era algo por aí além. Por isso lia as estórias, na esperança que o Menino acreditasse que aquilo que contava provinha da sua própria cabeça. De dias a dias a menina sentia um calafrio, uma vontade de fugir. Olhava o rio, podendo apenas sorrir, visto que a torre era grande demais. Mesmo vista do cais. Por isso ficava pelo sonhar, com os seus grandes olhos, os pássaros a voar. E não os invejava. Eles não sabiam amar. Ou será que sabiam? Ela, ela pelo menos conseguia imita-los a cantar. Mesmo cheia de animais, a terra deu ao Homem a responsabilidade da sua imaginação. Aos poucos, vai-se arrependendo da sua reputação. De mãe., passou a ninguém. Mas há dias em que os castigos se fazem sentir e aos poucos acredita que quando crescer, este seu filho há-de respeita-la fazendo então de tudo para a manter por cá. Mais um bocado. O Menino cresceu, sem sentir as escórias. Tanto que, como sempre, meninos de verdade deixaram de abrir os olhos de propósito, para poderem (vi)ver como o príncipe.

Até que o príncipe se apaixonou. Foi levado pelos uivo dos lobos para junto da pedra. A menina desceu da torre. Tinha feito amizade com os pássaros e eles levaram-na pra'baixo, visto que o príncipe não podia saber que ela o vira -do seu encaixo-. De mãos dadas, foram-se e no caminho passaram pelo mar., deixaram lá as suas pegadas., sem para trás olhar. Foram felizes. Até certo dia. O rei morreu, a princesa não aguentou mais e contou: que sempre viu. O príncipe sorriu e disse: que também ele sabia o que era ver, mas nunca o fizera porque antes de nascer tivera um sonho em que uma fada lhe dissera: para que nunca abrisse os olhos, até se casar. De forma a que também as suas pegadas não se apagassem na areia do mar.

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