sexta-feira, 26 de junho de 2009

Somos. De caminhos obstantes, de cenas cortadas e repetidas por instantes, faz-me o clarear do dia querer. Sim, é. Uma convulsão de sentimentos, pedaços, rebentos. Crente e mais que um ponto, jogo pela sensação de rodar. Preciso de abraços, beijos, lutas, mordidelas, carinhos, despejos, cortejos e linhas. Tortas. Que arrepios, do corpo à alma, por pouco arrastam-se em chama. Chamo mas não me lembro do nome, venho e volto, na esperança de um qualquer retome. Sim, é. A vida devia ter uma banda sonora, fazendo-nos cantar, sempre.
Tu és aquilo que sentes.

sexta-feira, 12 de junho de 2009


" Eu vi um menino correndo
Eu vi o tempo
Brincando ao redor
Do caminho daquele menino...

Eu pus os meus pés no riacho
E acho que nunca os tirei
O sol ainda brilha na estrada
E eu nunca passei...

Eu vi a mulher preparando
Outra pessoa
O tempo parou prá eu olhar
Para aquela barriga
A vida é amiga da arte
É a parte que o sol me ensinou
O sol que atravessa essa estrada
Que nunca passou...

Por isso uma força
Me leva a cantar
Por isso essa força
Estranha no ar
Por isso é que eu canto
Não posso parar
Por isso essa voz tamanha...

Eu vi muitos cabelos brancos
Na fonte do artista
O tempo não pára e no entanto
Ele nunca envelhece...

Aquele que conhece o jogo
Do fogo das coisas que são
É o sol, é o tempo, é a estrada
É o pé e é o chão...

Eu vi muitos homens brigando
Ouvi seus gritos
Estive no fundo de cada
Vontade encoberta
E a coisa mais certa
De todas as coisas
Não vale um caminho sob o sol
E o sol sobre a estrada
É o sol sobre a estrada
É o sol...

Por isso uma força
Me leva a cantar
Por isso essa força
Estranha no ar
Por isso é que eu canto
Não posso parar
Por isso essa voz, essa voz "

Composição: Caetano Veloso

sábado, 6 de junho de 2009

"O meu desejo é fugir. Fugir ao que conheço, fugir ao que é meu, fugir ao que amo. Desejo partir - não para as Índias impossíveis, ou para as grandes ilhas ao Sul de tudo, mas para um lugar qualquer - aldeia ou ermo - que tenham em si o não ser este lugar. Quero não ver mais estes rostos, estes hábitos e estes dias. Quero repousar, alheiro, do meu fingimento orgânico. Quero sentir o sono chegar como vida, e não como repouso. Uma cabana à beira mar, uma caverna, até, no socalco rugoso de uma serra, me pode dar isto. Infelizmente, só a minha vontade mo não pode dar."
...
"Que tenho eu com a vida."

Bernardo Soares, in Livro do Desassossego.