quarta-feira, 31 de dezembro de 2008


Medos escondidos. Faltam as letras quando as surpresas são constantes. De dias a dias sinto me assim, e venho aqui discutir o que houver para se cumprir. Os sorrisos nas caras são fáceis de perceber, a locomoção por dentro é que me fecha o embelecer. Um candeeiro meio turvo, a pensar se vale a pena acender, uma dança na rua, quase quase a adormecer. Sente o bater do coração, a rigidez da -opinião-, ouve os sons do serão, as marés a baterem como um senão. Daqui a uns tempos serei capaz de expor o que vejo, porque antes de tudo são sentimentos o que praguejo. A mesma acção, uma revolta, ou a bênção do papão. Buh. O quente é negativo e gato mostra me o frio, no seu mio sinto o que viu, mas Contento me com o meu e sorriu. Serei algum dia capaz de me superar, serei algum dia em paz de me parar, chegar e começar. Uma vida de rei, sem nada de seu direito a não ser a confiança na sua própria lei, a resistência de uma sentença, a cobrança de uma corrida em que me cansei. Enquanto não parar de girar, o meu mundo será apenas mais um em que o medo faz parte do que respiro, no ar.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008



Vozes por entre a parede deixam me acordar. Vêm de frente e mostram me que estou carente. Transpiro mas não expiro. Apesar de achar todos os dias que o prazo de validade já passou. Está para mim. Por entre os poros. São eles que gritam. Hoje não posso dizer o que estou a sentir. O momento é de calma e a minha salta me da palma. Tenho o destino escrito na alma. Por vezes saiu à rua e leio a. O mundo, esse devia ser só um. Não dois, três ou quatro. Perdoa me. Um aqui, outro lá e outro ainda -entre os dois-. Aqui sou feliz, lá era eu. Nos parâmetros dos outros sou feliz. E eu tento preenche los. Um dia de cada vez. Saiu e volto e ninguém me sente pelo olfacto. Fechem os olhos. Sintam me chegar, a mim, não aqueles que vocês vêem ao espelho. Pois, hoje é dia não e as duvidas suscitaram aquilo que por vezes não podemos escrever. Por isso saem estes hieróglifos. Costumava pensar que ninguém me entendia. Depois apaixonei-me. Após passadas paixões. E até hoje ando nesta corda-bamba. Toca samba e eu sou sei dançar ópera. Numa época sem tempo procuro te no vento. E de dias a dias encontro te. Agarro te e quando abro a mão a lembrança de te ter no coração. Demais que um dia destes fujo. Isso está mais que certo. Mas como posso chamar a isso de fuga se sei quando me vou. E para onde. Talvez porque quando chegar o momento temo o chegar do tal -Agora não, tens a vida toda. Agora não, tens que te concentrar no teu futuro. Agora não. Não agora. Se querem que vos diga, deixei de acreditar no amanhã. Sinto que posso desaparecer a qualquer momento, por isso, enquanto me ouvirem, estou vivo. E a viver. Que fado no futuro se o presente é o futuro de ontem. Deixem se de tretas e liguem a música - que eu - eu já estou farto de estar sentado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

The Brave One

"It is astonishing to find that inside you there is a sleepless, restless stranger, that keeps living inside you
(...)
I always believed that fear belonged to other people, weaker people, and that it never touched me. And then it did. And when it touches you, you know that it's been there all along, waiting beneath the surfaces of everything you loved
(...)
There is no going back, to that other person, that other place. This thing, this stranger, (...) is all you are now."

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

No outro dia fui a uma livraria. No caminho para lá deparei-me com a seguinte conclusão. As mulheres procuram, na sua maioria, ver no homem a imagem do pai. Seja este presente ou não. E pensei para mim mesmo. Não, não pode ser. Mas sim, acho que é verdade. Um calafrio. Um medo de imaginar a causa nesse facto e o desvanecer de um sonho. Olho para trás. Parece que toda gente me escuta os pensamentos. Vou confessar uma coisa. Tenho medo de falar mal das outras pessoas. Nem é bem medo. Nem é bem falar. Parece que quando penso em algo acerca de outra pessoa essa mesma pessoa ouve o que eu digo. O que eu sinto. Por isso custa-me tanto mentir, e ouvir mentiras. Tantas vezes que ás vezes, ao me contarem algo olho sem querer para os olhos e oiço a verdade. E a mentira a sair da boca. Que frio, mesmo com estes cobertores todos e todas estas insinuações. Qualquer dia parte-se-me a espinha. De tanto se arrepiar. Nem consigo dormir e não me saí nada. Não és tu, sou eu. Quero ser livre. Tempos depois vejo-te e lembro da sensação de liberdade que é ser-se adorado. O mais que tudo. Primeiro passo na livraria, e cheguei ao céu. Dez segundos depois, sinto-me no inferno. Como é possível haver tanta coisa escrita e tão pouco para dizer. Resumia metade dos livros aqui em duas palavras. Amor e ódio. Desde esse dia tomei uma decisão, nunca mais entro numa livraria sem saber o que vou comprar. Saí de lá com as mãos a abanar, de frio. Mesmo com todos estes cobertores e todas estas insinuações.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008


Ontem consegui não cair na tentação de escrever estes sons dentro de mim. Apesar de achar que esta fonte está para secar, achei que ainda tinha para verter uma última vez. Por isso o fiz.

Certo dia o rei teve um Filho. E ninguém se atreveu a fazer dele humilho. O rei tinha casado com a mulher mais bonita da terra, dado que era rei e todas as donzelas queriam ser rainhas com aquele rei. Mas havia um segredo. A donzela era tão bonita que quando ela se apresentava, os pintores do mundo ganhavam inspiração. Sem coração. As marés vinham e iam ao sabor do vento e a lua ajudava a que o seu movimento fossem constante. As pegadas na areia apagavam-se, apesar de terem sido escritas -para sempre-. Pegadas de promessas. Estavam lá mas por as guardarem, com os olhos sentiam-se traídos, ao invés de as saborearem. Sem molhos. Por isso o rei casou e a rainha teve um filho. Passaram cinco anos desde o dia em que o rei à nova rainha se juntara, e o herdeiro do trono finalmente nascera. Tinha duas irmãs um pouco mais velhas. Tempos depois, o Homem chegou à lua e descobriu que a terra era mais água que terra crua. E surgiu a pergunta: -Porque não planeta água? Logo veio o velho e avisou: -o mundo agora é dos seus senhores e apenas onde eles vivem é aliciante, daí as baleias se refugiarem nas profundas areias. De grito constante. E as aranhas serem feias. Mesmo nas flores.

O menino era cego. Mas o rei tinha tanto orgulho no seu Filho que ordenou: jamais se fala do segundo sentido. Visto que tocar foi consentido. As manas trataram do Menino como delas, daí que cresceram envoltos em amor, apesar das meninas se parecerem com as aranhas, sem cor. O Menino não questionava, para ele bastava como qualquer uma delas cantava. As árvores regiam as florestas, quais imperadoras vestidas por escritores e o vento da lua fazia-lhes festas. O uivo dos lobos sentia-se por gerações, diz-se até que ninguém se aproximava à noite das vegetações. Mas o homem sempre se sentiu obrigado a quebrar tentações. O príncipe cresceu, sem nunca ouvir falar das marés nos olhos. Mas ele cheirava, ouvia e sentia. E a água sorria. O velho era um contador de estórias, alguém que sabia ler muito bem, era algo por aí além. Por isso lia as estórias, na esperança que o Menino acreditasse que aquilo que contava provinha da sua própria cabeça. De dias a dias a menina sentia um calafrio, uma vontade de fugir. Olhava o rio, podendo apenas sorrir, visto que a torre era grande demais. Mesmo vista do cais. Por isso ficava pelo sonhar, com os seus grandes olhos, os pássaros a voar. E não os invejava. Eles não sabiam amar. Ou será que sabiam? Ela, ela pelo menos conseguia imita-los a cantar. Mesmo cheia de animais, a terra deu ao Homem a responsabilidade da sua imaginação. Aos poucos, vai-se arrependendo da sua reputação. De mãe., passou a ninguém. Mas há dias em que os castigos se fazem sentir e aos poucos acredita que quando crescer, este seu filho há-de respeita-la fazendo então de tudo para a manter por cá. Mais um bocado. O Menino cresceu, sem sentir as escórias. Tanto que, como sempre, meninos de verdade deixaram de abrir os olhos de propósito, para poderem (vi)ver como o príncipe.

Até que o príncipe se apaixonou. Foi levado pelos uivo dos lobos para junto da pedra. A menina desceu da torre. Tinha feito amizade com os pássaros e eles levaram-na pra'baixo, visto que o príncipe não podia saber que ela o vira -do seu encaixo-. De mãos dadas, foram-se e no caminho passaram pelo mar., deixaram lá as suas pegadas., sem para trás olhar. Foram felizes. Até certo dia. O rei morreu, a princesa não aguentou mais e contou: que sempre viu. O príncipe sorriu e disse: que também ele sabia o que era ver, mas nunca o fizera porque antes de nascer tivera um sonho em que uma fada lhe dissera: para que nunca abrisse os olhos, até se casar. De forma a que também as suas pegadas não se apagassem na areia do mar.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Quadro


Todos nós temos sonhos. Sonhos tão reais como impossíveis. A dada alguma altura da nossa vida todos nós acreditamos que todos esses sonhos são possíveis de alcançar. Quanto mais não seja, com um pouco de sorte.


Um dia perguntaram-me se sabia quem era. Respondi que sim, porque sabia quais seriam as minhas atitudes em quase todas as situações possíveis e imaginárias.
-Então o que é que não sabes? Perguntaram. -Não saberia escolher entre duas pessoas de quem gosto.


Daí que tenho um sonho. Gostaria de ter um trabalho das nove ás cinco, juntar dinheiro e comprar uma casa à beira-mar.
Ter quatro filhos endiabrados, dos quais dois meninos e duas meninas, para poderem discutir e brincar, morder-se e confortar-se. Ter um cão farrusco, uma mulher linda e um baloiço no jardim. Por fim, gostaria de ter uma sala cheia de livros, filmes, quadros e música, onde podesse ler um diário de quando era pequeno.

domingo, 30 de novembro de 2008


Imaginem uma fonte, prestes a secar. O dia era verde e o Outono chegara, para ficar. Enquanto isso, folhas chapinhavam e gritavam, sem parar. Os suspiros vazios, estremecidos pelo recordar, eram tanto que ás vezes chegava a pensar no que valerá a pena. Acordar. Imaginem uma fonte, que abastece toda uma população. Chega para cultivar e aquecer o pão. Se hoje visse Adão, perguntar-lhe-ia de certeza pelo sabor da maça. Porque não? Terá sido de certeza o sabor mais esquizito que lhe passou pela mesa. E no entanto, não teve pressa e ouvira toda a explicação da presa. Apesar de saber que nunca tivera opção. Levanta-me uma questão, que por mais que a faça maça e salpica-me o coração: Onde está a liberdade de expressão, se toda a gente sabe que o seu delito o fez por ele são. Por outras letras, poderiam ler: a crença em algo que me dá a mão, mas nunca está presente, sem ser em oração. Pois então imaginem uma fonte, prestes a secar, e a medida que vai secando, trás consigo pedaços de areia, junto com a água, que alimenta a gente e aquece o serão. Conseguem sentir o chão a tremer cada vez que a'nunciada babilónia anuncia vir para ficar. Vendam-lhes os olhos para que não possam mentir ou tentar. E à medida que vai secando, a fonte da vida anuncia a sua partida. Escavamos uma nova, mudamos-nos para a cidade canalizada, ou esperamos que a chuva venha, como prometido, visto que o inverno está para chegar .

sábado, 29 de novembro de 2008

vóz


Onde pára aquele essência do eu... O mundo que nos trás a frente sem nos mostrar o porquê do céu. Ninguém que olhe por mim acredita simplesmente no grande-bum.

Mesmo assim, a pomba continua a ser símbolo de paz. Um pássaro em minha casa, um sinal de Adeus. Ruivas é que não, por favor. E não pisem as riscas na rua. Nunca jantem a três. Se querem um segredo, contem-no a ninguém. Assim, demora mais, até que o descubram. Já agora, tentem encontrar uma agulha no palheiro.

Um cêntimo, que sorte!

Como os espinafres, faz forte. Como o Popeye. Pronto, chega de superstições. 'Tou cheio. Já falta pouco. Será que este ano vou voltar a comer apóstolas secas? Já nem me lembro dos meus desejos do ano passado. Dum lembro-me: Ser feliz.
Esta sim é a minha essência: Mostrar o que vejo, quando fecho os olhos. Cada dia tem dez mil anos. Abraça-me. Ontem descobri que não há nada melhor do que o corpo de uma mulher. E por aí continuam as pinturas nas paredes. Olha, um
gato preto .

Click

Era uma vez.
E depois deixou de ser.
Não sem antes dizer tudo o que lhe vinha à cabeça. E surpresa.

Quando a bola deixou de saltar o piano começou a tocar, e apaixonou-se pela primeira vez. Para sempre.

Tinha oito anos e o escuro era muito mais aterrador do que a escola, ao sábado.

Adoro-te.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

montanhas



Mais um dia de insónias mutuantes,

mais uma noite de memórias distantes.

Porque será que nego o meu eu

e afirmo conhecer o teu véu


?


não há nada nas montanhas que me faça desistir

mas também não há nada em si que me faça assistir

a uma morte lenta do mundo, por mim, por ti

mas nunca por aqueles, que pensam diferente

de forma a nos levarem em frente

.

Desconheço a vontade do ridículo

mesmo assim, se vivemos num circulo,

como podes ser num fim

quando se começa apenas porque sim


?


Não há nada

hoje em dia

que me faca querer voltar a acreditar

.

Oiço tantas vezes a manada

e o gato que mia

enquanto deixo cair aquele brilho do olhar

.

Confiança no dia de amanhã que hoje a noite fez-se longa. Porquanto a esperança faz a trouxa, montando a tenda sem que a lua se esconda

no fundo

considero me um fugitivo demasiado sensitivo, para uma qualquer tribo.


Por mais que tente,

não encontro o meu trilho e por isso pilho

ando por aí, de astro em astro

barco sem mastro

camuflado de sentinela

-mas sinto me estrangeiro-

um calor que congela

.


Por dias, apenas as melodias me fazem caminhar, e as letras me empurram a continuar.


O facto de os ter comigo também me faz acreditar, melhor dizendo, apenas eles não me deixam nunca. Desanimar. Apesar de, por mais que me custe, me tenha privado de os ver gargalhar, e o sol é o único que não me ofusca enquanto caminho para o ouvir poisar.



sábado, 22 de novembro de 2008


Ontem. Primeiro dia de neve e eu a rir-me. Á tanto tempo que não via neve. Quando vejo chuva, normalmente entristece-me. Tenho que estar mesmo para lá para me rir ao ver chuva. O dia fica escuro, as pessoas correm, ainda mais, as suas cabeças baixas, a contar os passos das correrias e os ombros encostados ao pescoço para proteger das gotas que teimam em entrar pela gola a dentro. As crianças em casa. Não vão elas ficar doentes. Isto do stress adoece mesmo. Um carro passa, mais rápido do que parece normal, nós, á espera da nossa vez em vermelho, molhamos-nos. Não faltava mais nada. E é aí que vemos que já perdemos o autocarro para casa.

Mas a neve tem um efeito diferente, em mim. As ruas ficam pálidas, quase celestiais. Os miúdos na rua, bolas gigantes, umas em cima das outras e cedo se fez um homem, nariz de cenoura. Os trenós descem e sobem a velocidades inversas. Mas o sorriso, paira em frente das caras, tanto a subir como a descer. Não sei, há qualquer coisa de mágico na neve. Na sei se já viram um floco de neve. Um único, visto de muito perto, o nariz quase a tocar e a respiração retida. Qualquer calor a mais e o floco é apenas mais uma gota. E volta a chuva. E eu não quero ver chuva, quero neve. Por isso, vou sustendo a respiração, o mais que posso.

domingo, 16 de novembro de 2008


Não sei se vou conseguir escrever isto.

E apesar de cada das vezes pensar e sentir isto, talvez seja esta a que me sinto mais à deriva. Talvez não,. de certeza. Como um beijo prestes a dar, sem saliva. Que lesa.

Alguma vez sentiram que eram mais em vida do que em sonho? Como pôr isto de maneira legível: A minha pergunta é se alguma vez se sentiram tão que preferiam não adormecer nunca, para que esse sentimento jamais se desvanecesse?

Imaginem um sapo que, de repente, se transforma em príncipe. Imaginem um cavalo solto da ancoragem e liberto numa qualquer savana se emancipe. Conseguem-se imaginar salvos dos vossos trabalhos e sem obrigações materiais. Meu deus, imaginem não conseguirem dormir porque o respirar tira-vos a calma, as imagens limpam-vos a alma, os sons clareiam a mente, os toques aconchegam o coração urgente... Meu Deus! Imaginem: o poder tocar o céu por uma pedra. Conseguem visionar uma beleza que cidra de um som que se prolonga para além do seu próprio timbre?

Como deixar isto sem que me perca entre palavras desnecessárias e supérfluas, gastas e levianas, fora, para que aquilo que diga não seja apenas algo de(mais) acrescentado.

Que a alegria se vê nos olhos, mesmo quando esta de costas.

As cartas: foram finalmente baralhadas, postas. Há uma energia a flutuar, o emitir de um sinal que estava por chegar. E chegou. Agora, anda por aí. Insónico. Eles ouvem, ladram, uivam, miam, mungem, cacarejam, grasnam, relincham, zurram, rugem, piam, chilreiam, grunhem, bailem, zumbem, urram, coaxam e até cantam: a sua chegada. Elas, fluem-na. Dividem-na.

Já questionei o poder da lua e do sol sobre aquilo que sentimos, se o conhecimento é realmente benéfico, a mim, como ser finito, ou se nos leva a uma busca insaciável e sem respeito, pelo inanalisável. Já me perguntei se as marés nos podem curar realmente de magias cheias ou ocas de cor. Já me perguntei se a vida é vivida antes ou depois, se o durante existe ou se é apenas o passado em viste da dor. Sem efeito.

No entanto. De momento, nada me trás mais inquietação do que sentir que nem todos procuramos o mesmo. Talvez seja inocente ou impaciente, anjinho ou parvinho, ou apenas ignorante. Adiante. A pergunta: O que leva algo de mente pensante a processar, amaldiçoar, quebrar, maltratar outro também de pensamento incessante, pelo simples facto de o fazer?

Perturbante.




-No outro dia segui um arco-íris. Nada me fora anunciado. Mas no fim, como no conto, ali estava ele, o pote de ouro. Imaginei onde estaria o tonto que apenas sonhara por louro. Ali não, pois o ouro que buscam os homens, que circunda dedos e pescoços, pulsos e ossos, não se revia naquele, visto que aquele era metafórico. Assim como o era o arco-íris. Mas o pote, esse estava lá. Feito de cor.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A vida tem dois lados. Hoje confrontei-me com o lado de um dos lados. Confuso. Sim, é como me sinto.
Mudei de casa cerca de dez vezes, mudei de escola cerca de dez vezes. Mudei de namorada cerca de cinco vezes, de amor cerca de três. Encontrei cerca de vinte novas pessoas sem as quais não seria aquilo que sou hoje. Para o bem e para o inverso.

Costumava pensar que estava de alguma forma assombrado, -não é normal andar sempre de um lado para o outro, qual nómada em casa de papelão. Lembro-me de ter cerca de oito anos e pensar que não queria crescer nunca. Brincava aos grandes com a minha Irmã mais nova, mas tinha consciência que era tão feliz que eu, não queria crescer nunca. A casa, cheia de amor, era visitada por discussões infindáveis. Tenho sorte de não me lembrar de quase nada até aos dezasseis anos. Memória selectiva, dizem eles. A falta de vontade, e não a incapacidade, de relembrar lembranças escuras. Pálidas.

Lembro-me que muitas das crianças que eu conhecia sonhavam em crescer, e eu sempre -quem me dera não crescer nunca. Se calhar é por isso que sou pequeno. Dormia todo enroscado porque diziam que dormir esticado fazia crescer. E eu não queria crescer, nunca. Por isso quando me perguntavam o que queria ser, dizia -cientista. -E curar as doenças do mundo. Mal sabia eu que as maiores doenças são aquelas sem diagnóstico. A minha mãe acenando a cabeça, toda ela orgulho... A professora da primária, muito querida, que um dia me puxou as orelhas, todo eu espanto -Há pessoas inteligentes, e outras espertas, tu és inteligente e esperto. Despertou-me a atenção por alguns momentos, mas depois tocou o sino e eu queria era brincar e não crescer, nunca. Não queria ser inteligente nem esperto. Os professores, no ciclo: és muito inteligente mas só usas a inteligência para o que não interessa. Mas o que é que interessa, afinal? E lá ia eu para o recreio, jogar à bola, andar á pancada, comer pães com "chóriço".

Memória selectiva: Brincar aos carrinhos com o meu irmão na rua, na berma do passeio, se caísse, voltava a trás. Jogar á bola com meias enroladas no corredor de casa. -Ganda sorte que não temos vizinhos em baixo. E os jogos intermináveis no tapete com os bonecos dos bolos de anos. -Tocou na mão, penalti. O mundo era aquilo. Os grandes não se sentam no chão, os grandes nunca ficam em casa a ver televisão. Os grandes não saem á meia-noite de casa para ir jogar á bola. A dois. A coisa que mais me trás quente adentro é a lembrança de ir para a escola de mãos dadas com a minha Irmã mais nova, cumprimentando toda a gente na rua: "Bom dia!" e levá-la á sala. Toda ela era vergonha. Eu batia, abria-lhe a porta e deixava-a entrar. Para mim, nada de especial. No dia a seguir, "Mano, levas-me á sala?".

Agora estou em casa. Senti-me abandonado e o meu mano aqui atrapalhado. Afinal éramos cinco, mas sempre fomos quatro muito juntos, visto que a mais velha decidiu cedo: Quero ser grande. Nós, agarrados ás cordas do coração, sempre lutamos por um futuro melhor e com o tempo ele veio. Vim de vez e voltei. Portugal. Vim outra vez. Alemanha. Destino, diria eu. Estou melhor que nunca porque era aqui que queria estar. Melhor que nunca e no entanto sinto que vocês me faltam. Tanto. Espero que me entendam. -Estava farto de viver ás costas sem me poder abraçar. Mas vocês ficaram, não para trás, mas também nem sei se para a frente, porque tenho tanto medo que se esqueçam, de mim. Tenho saudades vossas, de todos vocês. Pela primeira vez olho de frente para a saudade. Em toda a minha vida, de poucos anos preenchida, deixei migalhas para trás. Mas era eu o pão e vocês ficaram com um pedaço de mim. Cada um. Ainda bem. Agora faço parte de vocês, porque eu, eu sou massa que vocês moldaram. E embora não me ache nada de especial, o facto de me abraçarem faz-me sentir orgulhoso por vos ter. Em mim.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Era inverno. Mas o frio que se fazia sentir lá fora não fazia sentido e os coelhos ajuntavam-se. As letras separavam-se sem coragem para se vestir e as vozes abafavam-se entre as montanhas. Não havia uma coruja que não o soubesse, no entanto ninguém o mencionava. Chegara o dia, de repente, nada do que as ondas diziam importava mais e a única forma de correr era voando.

Chegara o tempo.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Imagem


Tive um sonho. Não me costumo lembrar dos sonhos mas este era tão especial que decidi lembrar-me dele até o poder partilhar.

Imaginem o seguinte: Um dia, sem mais nem menos, toda a gente se senta num banco e levantando-se para o mundo grita:

-O que eu quero é ser feliz!

Agora, imaginem toda esta mesma gente a fazer tudo o que tem à sua disposição, -isto é, crer e querer ser feliz.

Querem saber o que eu vi?

Vi pessoas. Nada mais. Pessoas. A diferença dessas pessoas para as da vida real é que aquelas pessoas tinha a consciência que não era
feliz. Tinham caído em si e por breves momentos reparado que por mais que tivessem vivido uma vida inteira a acreditar que o eram, na verdade não o eram. Mas o que é já a realidade, afinal.

Na verdade, a maior parte das pessoas tem a sina -de ser feliz- mas guarda essa mesma sina para
amanhã.

Porquê?

-eu tenho uma teoria, que vou partilhá-la. E vocês podem lê-la, se quiserem.

-eu acho que, o
Homem, na sua grande maioria, tem medo da felicidade. Sim. Insiste que quer ser feliz mas evita a felicidade. Afasta-a. Luta contra ela. Mata-a, por vezes. E apesar de ela tantas vezes outras ressuscitar, qual Messias saído dos escombros, ignora-a e obriga-a a abandoná-lo. Ao fim e ao cabo, o mesmo Homem que diz tudo fazer para o ser, tem medo de ser feliz, de fazer e ver os outros felizes. Como que ao sê-lo nada mais houvesse para alcançar. Conquistar. E o Homem, conquistador como nenhum outro ser, de terras, de mares, de bens, de males, de corações, de estômagos, de seres, de pedras, (in)conscientemente pensa que se fosse feliz nada mais tinha para conquistar. E, na sua insaciável busca por algo novo e quando prestes a alcançar o seu objectivo, traça de imediato um outro, bem Mais apetecível e por ventura Mais difícil de alcançar. Talvez se tomasse como Tolo ao pensar em tal Loucura: Ser feliz: Se já feliz, porque lutaria, porque mataria, porque roubaria, porque odiaria, porque pecaria. Poderia por último dizer que é feliz a cometer tais actos. Mas não estaria este então em minoria? Eu penso que sim. E segundo Darwin, morreria aos poucos, em maioria, sem transmitir essa virtude que se transformara em defeito, qual pensamento condenado ao esquecimento.

Vem de novo a questão: Como ser feliz? Sinceramente, não sei. Mas acho que se pode basear mais ou menos nisto: Amor para com aqueles que nos querem bem. Pois, aquilo que quase todos aprendem no primeiro dia de catequese. Até eu que nunca lá fui recebi por entre médio de um qualquer miúdo vislumbrado esse -ensinamento-.

Fica ao vosso critério, mas se alguma opinião tenho, essa seria de certeza a minha. Posso muito bem estar errado, mas por aquilo que vou vendo, ser feliz traduz-se apenas em amar aquilo que fazemos; o que vemos; com quem estamos; o mundo com o qual interagimos; afinal, o que sentimos e nunca o que (não) temos. Podemos gostar, muito até, mas pelo que sei ninguém ama o aquedutos das águas livres desenhado num pedaço de papel.

E como posso ser feliz amando: Como? Acho que começando por não tentar mudar o Outro, por outras palavras, não tentando mudar o mundo, tentando apenas mudar o que de mim vejo e sinto de errado. Não a carne nem o osso. Apenas aquilo que me trás um aperto de dor por dentro quando o faço. À primeira. E com todas as minhas forcas mudar. Não há meio. Não há mais ou menos. Não há melhor ou pior. Há. O bom e o mau. Todos nós sabemos disso. Basta -apenas- amar o bom. A mim, custa-me. De qualquer maneira, acho que nada dá mais prazer do que olhar a prata no vidro e ver reflectido uma pessoa melhor, cada dia. Com algumas, muitas ou poucos falhas. Mas, com essa mudança, vejo o que de mais importante sinto: A mudança para melhor
daqueles de quem gosto. Perdão, amo. E assim dá gosto mudar.

Afinal, não seremos todos nós espelho
daqueles que amamos?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Algo Que...



Começo por aplicar a formula da divisão
Fora de questão estão a soma ou a subtracção
Assim como a despropositada multiplicação

Isto porque a vida nunca nos junta nem nos minimiza
Divide-nos e quimeriza a saudade sem depreender
Cada um dos detalhes que por dentro a contabiliza:
A solução para a conversão do observar em viver

-
Aquilo que sobrar é resto
Dois elementos juntam-se por afecto
E o que sobra nunca é superior ao inicial
A resposta para a unidade em sentido. No final.
-

Que pressão interior
Parece que me sinto em furor
Nada do que vejo é superior
Tudo me é superficial e sem valor

Estou a poucos minutos de partir
Sair daqui e começar a descobrir
Procurar novos mundos no vento
De momento

São apenas palpitações a surgir
O desejo de cumprir:
Algo que sinto
No peito
A rugir

Por ouvir - Por olhar - Por tocar - Por sentir


Olha me nos olhos - Vê me correr entre os folhos
Em frente - Procurando o que perdi na corrente
Do passado: foi bom. Entretanto acabou se me o dom
De sonhar - Sem parar cresci deixando por lá o que já esqueci
outros dizem que aprendi - Eu acho apenas que O perdi.
Por aí...

O sabor ficou, amargo na boca e eu, parece que ainda aqui estou.

-No entanto-

Sempre que vejo as Estrelas brilharem
-cumprimento as
Penso que olham por mim sem ganância nem retoma
-invejo as
Por de tão imponentes nada têm de carentes na forma
-oro as
Para que na hora certa a sua cerca nos aproxime ao desdenharem
-afasto as

O que de tão importante te levou ao meu apartar
O que de tão arrogante te fez continuar a amar
Apenas uma parte de mim e conseguir assim andar
Sabes: por aí trilham aqueles que nos tentaram ensinar.

Será que algum dia terei a coragem de me abandonar
Espero que esse momento chegue e que seja suficiente
Para me encontrar. O que creio ser o ciente
Dono de mim que vagueia por aí sem se fazer notar.

Que arrepios sem prazer me fazem exaltar sem corar
A sinfonia interior que me trás ao mundo incolor dos exaltados
Tapados por vendas transparentes entre correntes sem parentes
Escolhidos a dedo sem tempo vivem para si sem pensamento. No fim.

Vivo apenas o que li. O resto vagueia somente no que escrevi. Em ti.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Meio-Metro


Estou feliz. Para não variar. A novidade reside no facto de transcrever essa mesma felicidade para este espaço. Querido. Este assombro de sentimentos não é prova de nada em especial. Apenas que hoje acordei e senti que o mundo era meu para conquistar. E que era eu quem o tinha de velejar. Apesar do frio exterior veio-se-me um valor intenso ao interior: inédito. Consequência -ou não- da minha consciente impotência perante algo que não posso mudar, resta-me com ela desenhar. E soltar. Esta gargalhada provem da manada de olhares aos pares que passam por mim todos os dias sem me conhecer mas que no entanto se recusam deixar de espreitar. Nada a-ver. Esta magnitude simplória de acontecimentos provém do elementar motivo de -ela- me ter abordado no metro, sem nunca me conhecer, apenas por ser admiradora do que eu ouvia: alguém que encantara gerações fazendo rodopios, qual piões no recreio movidos a fios. E pelos visto ainda en-canta. Pelo menos a dois. E ali ficamos nós, dois desconhecidos unidos desde sempre por um som mudo sumido em apenas duas estações. Querido. E o número caído no banco onde estivera o seu ouvido. Que gentes as nossas musicais mentes. A anos de luz de perceber o que me faz combater, continuo com uma vontade imensa de me preencher. E não é que de vez em quando lá leio, oiço, vejo, toco, -sinto- qualquer coisa que me faz sim, crer.

Enquanto escuto o que me é escrito do além, leio nos abstractos a nitidez daquilo que me faz bem. E por isso mesmo continuo a rastrear tudo o que de infalível me fora dado enquanto estudado. Muito obrigado.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Antes de Mais


Dois assuntos. Porque não me apetece escrever duas vezes, escrevo só uma. E mal. Desfocado.

-Disse-lhe que não me importava com o que os outros pensam de mim

Leia-se que quando digo -outros- falo daqueles que não conheço ou, mesmo conhecendo, não admiro e por defeito não respeito
.Sim, são esses os "meus" outros

-Disse-me que não acredita

A resposta era óbvia, mas por alguma razão eu não estava à espera dela. E por isso não tinha qualquer resposta preparada. Como em tantas outras ocasiões.

-Ainda bem, pensei em voz baixa. Foi da maneira que fui o mais sincero possível. Comigo, não com ela. Comigo porque quando cheguei a casa decidi prová-lo. Não porque precisasse que ela acreditasse. Entenda-se:

Precisava de acreditar em mim. Precisava de voltar a dar tudo por mim, dar tudo por aquilo que acredito e acho como justo. E bom.

Por isso decidi começar por algo simples. Isto.

E decidi deixar de escrever bonito, daquilo que menos gosto. Decidi começar a escrever sem apagar, sem pensar, demais, decidi tentar afastar os outros com a realidade. Nua e crua. Pois, A realidade.

Passado algum tempo, alguns textos, -disse-lhe

Á primeira vista parece que provei a minha tese. Quem entrasse cá viria uma página às cegas, um monólogo quase. Ali e aqui, uma observação. Nada mais. Mas o fluxo aumentou. Apesar de nada dizerem, ficaram mais; lerem mais; estudaram mais; compararam mais e depois hesitaram mais.

-Nada como entrar e sair como se nada fosse, para não os identificarem com a demência cá presente. Mas houve algo que os fez ficar, pelo menos mais um bocado. Mesmo que depois tenham saído com um pouco de mim.

A conclusão, na minha visão

-Podemos escrever para impressionar, mas só nos conseguimos tocar quando nos expomos a'fundar. Não é o mais bonito? Que se foda (desculpem a linguagem), para beleza basta-me não racionar - Sentir - Tocar

...

Depois disse-me, -Porquê que só escreves sobre tristeza se nos teus olhos vejo felicidade?

-De certeza, perguntei ao responder.

Passo a redimir-me ao explicar o porquê do meu pesar. Não o faço para impressionar, para isso bastaria rimar. Como podem constatar - apesar de me acabar em ar.

Devo escrever que não o faço por me sentir culpado, amaldiçoado ou de alguma forma azarado.
Faço-o por uma simples consideração: Não consigo explicar a lua que sinto mais minha que tua; Não consigo explicar a chuva que caí e bate na janela e me adormece qual beijo de Cinderela; Não consigo explicar o amor que todos os dias sinto vindo Daqueles que com os olhos me vêm a alma de vento.

-Como posso explicar aquela folha que me fez parar dez minutos sem conseguir avançar; Como posso explicar que apesar de tudo o que vejo, apesar de tudo o que invejo, apesar de tudo o que desejo, passo o dia a sorrir a acreditar piamente que sou feliz sem tentar; Como?

A resposta vem pegada à pergunta: Não posso, apesar. E ainda bem, porquanto ser racional, ao matutar do porquê de o ser, de o fazer, de o sentir, de o sorrir, de o iludir, nunca mais poderia ser-me todo sem desgostar do que estava a avistar.

Portanto, -raciocino, na preguiça matuto, penso, contabilizo, pergunto; em suma de tudo vasculho. No fim o manuscrito é como um assassínio, sem justiça astuto, tenso, lacrimejo, respondo; transcrevo o meu lagar de entulho.

Liberto-me! Mas não me carecia fundamentar, não fosse o facto de o espectáculo estar a terminar, pelo menos até voltar a tal vontade -de vomitar. Sem chorar. Palmas.

sábado, 18 de outubro de 2008

anti-poesia II

Chego atrasado. Ao acordado, para variar. Ela de cara e corpo virado, sem lado, nem perfil, toda ela canil. Não cadela. Canil: Abandonada, maltratada. Insultada: Pelas palavras que eu não lhe disse e por isso Acho que zangada. Aliás, atraiçoada, por lhe ter sido prometido um príncipe e lhe ter saído um sapo. Por outras palavras, foi-lhe prometido um vestido -de noiva- e coseram-lhe um trapo. De lã. Mas de qualquer maneira um trapo. Lá está ela; abandonada, maltratada. Insultada. Nada cadela. -Canil. E no entanto, assim que chego, grita. Uiva!, tenta magoar-me com as palavras que não diz. Morde-me. Baba-se até. Dos olhos. Terá apanhado raiva? Daquela que se pega daqueles que a tem por não ter. Agora chove. E ela chora. E eu ali, -apático-, a tentar perceber porque será que sempre que chove durmo de janela aberta; porquê que a goste de ver chorar; de a ver sofrer; de a ouvir gritar? e descubro que por incrível que pareça, não gosto. talvez para alguns faça algum sentido, visto que gosto dela, mas para ela o vestido todo ele é trapo; de lã. Mas trapo.

O príncipe há muito que se transformou em sapo; quem sabe com o primeiro beijo. E o vestido todo ele é remendos. Um trapo de repetições e remendos. E ela ali. Canil. Não cadela. Canil: -Abandonada e maltratada e insultada e zangada e atraiçoada.

Ele há dias em que me sinto um cão. Sem osso. No canil.

anti-poesia

Descubro que por mais forca que faça, acabo sempre por encontrar uma traça, uma farsa, que se me entranha pela pele adentro. Sem papel de destaque, é apenas figurante. Sem Channel; adoçante. Dito isto e visto não haver plano previsto, começo a imaginar o que seria de mim sem o dito Evaristo:
O tipo da pergunta, -tens cá disto?

-É o riso que me leva de um lado par o outro sem procurar o que encontro-.

Tinha três anos, três anos. A primeira vez que me lembro daquele pedaço de mundo, sem fundo, no fundo de tudo em que me afundo.

A discussão: não sei a razão, mas suponho que fosse devido aquilo que lhe era mais importante que pão. Sim; falo do meu papão, dos momentos em que chegava a casa e ladrava que nem um cão, e eu a brincar. Porque não o ouvia. As suas palavras nunca me causaram medo nem tão pouco inspiração, apesar de não me lembrar de uma vez sequer me ter levantado a mão. O papão. -Engraçado como este adjectivo só me aparece quando já não tenho idade para chorar em vão-. Até àquele dia. Os vizinhos saíram das suas comportas, para assistirem às palavras tortas. Não percebo o que se passa, vejo desfocado; ou será a memória a tentar esconder-se de mim. As palavras saem de um lado e de outro de uma forma habitual, fará parte do ritual? A minha protectora, outrora professora, levara-me ao colo, porque as minhas finas pernas já não aguentavam mais solo. e de repente PÁS! Um estaladão,

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Muralha


É difícil ser descomplicado quando a mente está confusa. É difícil perceber todos os sinais quando não nos percebem os nossos. É difícil acreditar quando tudo nos leva ao ponto inicial da criação humana. Primatas. Somos afinal todos. Fazemos parte de um pequeno mundo perdido no espaço. Sem tempo.


Todos queremos andar para trás, como se não soubéssemos o que estamos a fazer. Sabemos.

E muito bem. Apenas não queremos ver, queremos viver, -sonhar- mas nem sequer nos deixamos adormecer. Repetimo-nos a cada palavra gasta.


Não podes esperar de mim aquilo que não me corre nas veias. Sou um simples ateu das vidas e não, não quero que me leias. Quero que saías.


Mas se me sinto viciado, até duas palavras me fazem perceber o dia. Mas sinto que devo calar.

Porque o que saí não é o que quero dizer. Explicar o que estou a sentir. Não. Não. Não consigo. Que prisão me escorre pela mão. E que bater. Será o papão. Buh. Sim, é o coração.


Que calor. E no entanto, tremo. Gemo. Esqueço-te. Sei que sim. Mas não me lembro quando.

Há de chegar o dia em que me faltam as palavras e aí sentirei o que é ser livre destas escravas.


Aqui. Tudo é noite e o dia passa sem mim. Que felicidade me poderá trazer partir se só de o imaginar já me está a baralhar. Desculpas. Aceites. São minhas e são para mim. O resto do mundo ficou sem alecrim. Sem ser semeado. Menos dourado. Eu fico apenas com o pensamento que um dia terei tudo aquilo que recebo mas não percebo. Porque vejo tudo para além do que é e nada daquilo que me está exposto.


Sinto-me crente, mas depois vêm as palavras e foco sem lente. Perco-me. Será que alguma das coisas que disse chegaram. Porque eu, não as ouvi sair.

domingo, 5 de outubro de 2008

No geral


Às penso em ti e tenho saudades. Não te ti em particular, no geral. Tenho saudades. Penso, lembro-me de ti e de tudo o que passamos e sinto no peito aquela palavra que existe unicamente no português.


Isto tudo sem nunca querer voltar atrás. Porque já não te amo. Minto. Desejamos sempre no nosso secreto eu, voltar para trás para aquilo que nos fez feliz. -O que quis dizer não foi isso-.


Por outras palavras: não me arrependo de praticamente nada daquilo que passei contigo.Por isso recordo sempre aquilo que me fez sorrir. Sim.


Como sei que algo assim não dura para sempre, prefiro ser contente por pelo menos alguma vez o ter sido, do que me martirizar por não mais o ser. Contigo. Porque o sou, comigo.


Mas tudo é diferente, agora as coisas são a preto e branco. Simples.

Connosco também eram, nós é que as pintávamos de outra cor.


No nosso tempo, tudo era arco-íris e, por mais que queira, não consigo crer que alguma vez mais o será.

Tenho a certeza que voltarei a ser feliz. Mas desta vez no sintético, a preto e branco, sem muitas estórias, sem potes de ouro no final.


Lembrei-me disto porque dá-me a volta à mente a mente humana:

Tão desumana. Connosco mesmo.

Continuo a procurar a razão que nos faz fazer algo:

Evitar a felicidade.

Parecer procurá-la mas na verdade evitá-la, sentir-se seguro no seu oposto. Então finge-se ser feliz, finge-se tentar ser feliz e na verdade:

Não se é.


De tanto pensar dói-me o peito, pois nunca encontro uma razão, porque procuro-a sempre na lógica. E o sentimento na a usa. Fá-la brinquedo, goza com ela e reduz-a a nada.


Simplesmente porque te vejo procurar a felicidade. Encontrá-la, fugir dela a sete pés.

Abrigares-te à chuva e sentires-te seca. Por dentro.


“-Mas pelo menos”, pensas tu: “-tou segura”.


E rezo tanto, -rezo mesmo-, para que esteja errado. E como dizer isto: não estou.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Faces


Parte II

Sou um. Não sou nenhum.

Sou a mistura daquilo que me tornaram

E daquilo que me transmitiram

E daquilo que me é inato: Sou.

O que tenho e o que me deram e o que negaram


Eu sou um pouco de mim

Mas essa parte está tão escondida

Está tão recôndita do meu ver da vida

Que nunca chego a pensar no seu fim


Num mundo em que actos são condenados

E pensamentos são de bom grado passados

Continuo a pensar que nada daquilo que somos

É na verdade o que de nós nas lendas nos contamos


Faço portanto uma síntese do tudo e do nada

Porque não sou nada por inteiro

Sou um pouco de todos, dos bons e maus

Dos delinquentes e dos crentes, dos cegos e dos videntes


Leio tudo o que se escreve e no entanto sou analfabeto

Para ver é preciso antes de mais fechar os olhos e perceber

Que os sentidos servem apenas para confundir e esconder

O erro que se esconde por detrás do já desvendado secreto


Acredito portanto que nunca existimos por completo

Somos miragens daquilo que sempre imaginamos no feto

Que acaba por nascer e apodrecer por não ter o que escolher


Quem irá ser: Alguém influenciado a impressionar sem crer

Fica então a pergunta que não me consigo responder

Posso eu alguma vez viver sem me ver lentamente morrer?

Depende: Se a minha vontade for ficar no coração e não na mente

Posso permanecer para sempre sem nunca me pesar nascer


Serei portanto um pouco de tudo o que desejo querer

Sou um por junção de todos os que me fazem a alma

Nenhum por inteiro pois sobra-me o vazio de novos seres.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Faces



Parte I


Custa me escrever cada vez mais, já que de dia me leio e de noite esqueço, sendo que me penso durante segundos que tais, momentos de clareza que me fazem depois do avesso.



Mesmo assim já pensei o que aqui ponho

E com temas pré-definidos não consigo sonhar

Deixar escorrer as palavras para ficar livre de arranhar

Quando explico o que a certa altura já esqueci no sonho




Acredita-mo-nos ser aquilo que vemos

Serão os outros aquilo que vemos deles?

E serão eles aquilo que navegam de si sem remos

Ou viveremos todos numa bola de sabão sem lemes.


Não me explico.

Mesmo que explicasse com uma lupa

Ficariam sempre com uma impressão minha de camada fina

Não me importo.

Pois só quem me conhece me preocupa

Mas no final das contas também eles não me lêm a sina


Quantos sou então:

Pergunto? Não sei responder

A resposta saí-me sem questionar ou sequer se importar

Sou aqui meu mestre em escravo sem ensinar

só aprender.


Tudo o que nos torne algo faz-nos diferentes

Seremos portanto nunca ninguém. Porque mentes?

Fomos sempre alguém na junção das gentes iguais

O sentimento de pertencer faz-nos perseguir materais correntes


Quantos somos:

Algo serei porque como disseram, pensei.

Tudo não serei pois não perguntaria o que não sei

Algo fica portanto como hipótese para determinar a lei


Aquilo que somos amargura aquilo que fomos

Benaventurados alguns pois nem tudo comemos

Acreditamos no manto do crer em algo não profano


No entanto antes d’outros é a nós que amamos

Sem essa capacidade não nos existiríamos sem amos

Ainda assim lemos algo do extraordinário engano.


Impossível definir-te sem que me julgues fingir-te

Faço portanto a minha escultura dormente e mental

Daquilo que vejo de mim e de ti sem ti nem mim

Porque aquilo que nos imagino não é bem assim


Quem sou e quem és:


Não sei.


Seremos o que imaginamos de nós

A ideologia de viver em cordas sem nós

A destreza de não dizermos bem o que queremos

Será que nos faz falta a palavra e a coragem na voz

As duas sem colagem por medo do julgamento a vós –oremos-


Somos todos um pouco daquilo que somos

Por vezes um pouco mais um pouco menos

Aquilo que retratam de nós em quadros a nus

Ou seremos aquilo que vêm de fora sem luz.


Serei eu aquilo que demonstro de mim

Serei eu aquilo que querem que seja de mim

Serei eu aquilo que imagino ser de mim

Serei eu aquilo que os outros vêm de mim

Serei eu aquilo

Serei eu

Serei?

Sou.