Acabo por acreditar que não tenho jeito nenhum para a escrita. Sou analfabeto, portanto.
Tenho a certeza, no entanto, que muito boa-gente, ao ler isto, irá pensar que eu estaria apenas a pedir umas palmadinhas nas costas -Tens jeito tens, e muito, até.
Pois é, mentira. Não tenho jeito nenhum para escrever e: ainda bem, porque se tivesse talvez pensasse em tornar-me escritor. Um escritor analfabeto, já imaginaram isso. Arranjava um trabalho, passava dez ou vinte anos a fazer escrita-da-treta e a ler mil e um livros. A partir daí, dedicava-me á escrita. Pois bem, a verdade é que acho que não tenho jeito nenhum para escrever e ainda bem. A cada dia que passa, tento fazê-la com a menor qualidade possível. Costumava lutar com cada palavra, misturava-a, mudava-a, encarnava-a, até a considerar perfeita. Isto num texto com miles de palavras. Até voltar a ler e perceber que afinal, o texto não passava de um texto. Vulgar. E pensei para mim que o mundo é como algumas escritas, vão ou verdadeiro. E há aqueles que estão no meio. Isto de andar em extremos cansa.
O problema é que toda a gente (fora os analfabetos), sabe escrever. eu acabei por me imaginar que para se ser escritor, é preciso sofrer. Nada de novo, portanto. Porém, trazer o peso do mundo às costas, para que o que saí nas entrelinhas seja aquilo que não nos é possível descrever, custa-me. E custa-me tanto chorar nas meias-letras, que dou por mim a agradecer a deus por ser analfabeto e, não saber escrever.
De qualquer maneira, sei algumas palavras, que me saem pelos olhos mais do que pelo resto do corpo, e para o caso de passar por mim um sorriso gigante a tentar abraçar-me, escrevo-lhe uma carta -e digo-lhe qualquer coisa- .
(30/03/2009)