Viagem ao centro da terra
Coisas que me deixam desapaziguado. Coisas pequenas, que com o tempo me corroem a paciência, a vontade de deixar de lado e seguir em frente. Bem, são coisas pequenas mas que me dão que pensar.
Desculpem o português.
Detalhes de personalidade que me fazem aquela comichão de polegar no indicador, a remoer. Deixe-mo-nos de tretas, são exactamente estas conversas da treta que me arreliam, ainda que menos que à algum tempo atrás. É o ser nacionalista para esconder fraquezas. Quem em si não é nada de mal, mas ser nacionalista, patriota de honra, espezinhando outréns. Sim, vejo com maus olhos. Ora vamos lá a isso: então eu nasci em Portugal continental, tenho sangue noventa e nove por cento angolano, vivo na Alemanha e penso em ir-me mudando de país década sim década não, mais coisa menos coisa.
E depois vêem aquelas pessoas que dizem que não saem do país no qual nasceram porque são Patriotas, nacionalistas, bimbos, racistas, chamam-lhes o que quiserem. Para mim, isso só tem um nome: falta de racionalidade. Nem sei se esta palavra existe, eu que sou orgulhoso português. Mas tenho que admitir que este povo ao qual eu chamo de meu, não me pertence, e por vezes, me envergonha.
A razão é simples, e nem é preciso acreditar em Deus para ver alguma congruência naquilo que digo: Não seremos todos -apenas- cidadãos do mundo?
Quer dizer, estas mesmas pessoas que têem tanto orgulho em ser de uma determinada nacionalidade, são as mesmas que se fazem de -correctamente politicamente incorrectas-. São contra os políticos, mas envolvem-se em movimentos políticos. Nunca estudariam política mas julgam-se na capacidade de fazer melhor que os tais políticos, os quais a propósito nem sequer conseguem ver ao vivo, caso contrário nem sabem o que lhes fariam.
São as mesmas pessoas que sonham com uma casa à beira-mar, chinelo no pé e filhos até perder de vista. Mas que não deixam o dito Mac apanhar pó demais, nem as benditas férias à sombra da bananeira.
Isto tudo para dizer que não percebo nem acho que um dia venha a perceber estas mesmas pessoas que consegue julgar uma viagem à Índia na qual se passa mais de um mês, onde se visita cidades que nem no mapa se encontram, onde se vive de pé descalço, na qual se banha no tal Gange Nojento, e na qual se tentou ao máximo viver a viagem, com poucas fotos e muitas lembranças, como negativa.
Por a sua vez, era de se apostar que na experiência destas mesmas pessoas se tenha passado apenas alguns dias, talvez algumas semanas nas cidades mais turísticas do bem dito país, o visitar o mais que visitado, para no fim dizer: eu já estive lá, e não gostei. As minhas ricas Caraíbas. Viu o lixo, porque não olhou para o céu. Testemunhou a pobreza extrema mas não ouvi a mãe a cantar uma canção de embalar para toda a família, antes de adormecerem. No chão, da rua. Ainda bem que me sinto deslocado... e por momentos, pensei que tinha feito algo de errado.
Ainda não escrevi tudo aquilo que vivi, vi e senti, na Índia. Mas pode ser que quando acabe, o ponha aqui. Mas acho justo poder dizer que mudou a minha vida. E peço desculpa que se com isso fiz algumas pessoas duvidar de si próprio e com isso, atacar o próximo.
Nunca saberei.
Mas sei que o patriotismo que tanto vejo denotado nos olhos, acções, letras e canções, é o mesmo que se denota na hora de olhar para o lado e reparar que a nós não nos faltam nada e que há sempre alguém pior que nós, o qual podemos ajudar.
Isto não é um texto de críticas lívidas. É um texto que tenho vindo a pensar já à algum tempo. Pena que não o consiga escrever de forma bonitinha, para que toda a gente a possa ler. Ou pelo menos alguma gente, aquela que percebe de escrita: isto sim, é um texto bem escrito -apesar de não perceber patavina daquilo que quero dizer.
Ao menos, posso tirar as minhas próprias conclusões. Isto sim, é arte.
Epá, por amor de Deus. Deixam-se de merdas. Não existem nações, existem pessoas. Seres humanos, que precisam da vossa ajuda, da nossa ajuda, a toda a hora. E talvez, se nos deixasse-mos de preocupar com a economia nacional ou com o que os políticos dizem ou fazem, os mesmos que vocês de qualquer maneira nem sequer ligam, talvez, mas só talvez, conseguisse-mos um mundo melhor.
Talvez aí se deixassem de explorar países de terceiro mundo, para o bem da economia mundial. E talvez aí, os mesmos patriotas que tanto amam o seu país deixassem de sair do país para procurar melhores condições de vida, noutros países onde nem sempre são bem vindos. O que, como qualquer bom patriota, bem percebem.
Isto não é um ataque, é um pedido de desculpa ao mundo, por ter de escrever isto. Por sentir que eu próprio ainda tenho muito a aprender. Com o mundo. E Deus