Tento inventar algo de novo. Depois de noviças tentativas, desejo o contentor.
Se faço qualquer texto com pretensões elevadoras, perco o principal motivo da escrita aí mesmo, a falta de motivo construtivo.
Bem, mas tentar descobrir-nos e ao mesmo tempo reconhecer-nos, a cada vez que escrevemos, é bem mais difícil que seguir uma linha de pensamento segura, em que copiamos a ordem de pensamentos por outros reconhecida, na intenção de continuar a fazer aquilo que -criticamente- bem fazemos.
Ora, em principio não existe nada de errado, nessa mesma linha de pensamento, a não ser o facto de que, ao tentarmos ser livres na escritura e seguindo tal rio de pensamentos, nos prendamos a nós mesmos.
Com isto, dizer que deveremos ser livres e escrever o melhor possível, esgotando todas as nossas faculdades, copiando todos, misturando-os e reescrevendo-os connosco, é procurar a verdade. Assim, vemos-nos no final de cada texto começarmos de novo, lutando novamente por estarmos perdidos, indo sempre além do raciocínio. Só desta forma poderemos ir de encontra ao efeito eureka.
Porém, pensar que nos juntamos aos demais, escrevendo por ser diferente, tem a sua linha de verdade.
Eu tenho o direito de deixar de fazer aquilo que faço bem, caso o faça por acaso, com o principal motivo de ser livre. Esgotar-me vezes sem conta, escrevendo de todas as formas de pensamento, e quando me sentir melhorar, parar. Pois melhorar é na escrita sinónimo de repetição. E a repetição deverá vir de um movimento perfeito e infindável, entre o escritor e o leitor. E é no parar e envergar por um novo caminho que inconscientemente a centelha do pensamento livre irá nascer, ajudando-o a encontrar algo completamente diferente da minha linha linha de pensamento. Quebrando a repetição. Por isso mesmo os textos ou mesmo o livros não ensinam. Incentivam. Aquilo que o analfabeto sabe por não saber, jamais o matemático e o filósofo poderão saber. Por outras palavras, aquilo que o cego vê dentro de si quando se lembra de uma viagem, nunca será palpável por qualquer vidente. Com conclusão, lutamos para nos mantemos à deriva, enquanto há águas novas para navegar.
Escrever, deverá ser, por isso mesmo, isso mesmo. Escrever o que nos vai na alma, sem medo que aquilo que digamos seja demais supérfluo ou profundo. Entendido e às escuras no inconsciente. Qual acto não o é. Só o de pensar sem concluir. Nem a mim mesmo posso concluir que o meu ponto de partida e chegada é tão, digno de melhor, de modo a partilhá-lo e com ele influenciar o mundo. Influencio-me a mim, de modo a ter vontade de ser influenciado por outros. Se com isso, de alguma maneira, influenciar outros, deverá isso ser um efeito lateral, não pressuposto nem tentado por mim.
Dependendo do que queremos do mundo, torna-se a arte de escrever, por si mesmo, uma tentativa, de nós próprios, de nos percebermos. E de percebermos o que queremos do mundo. Para no final, podermos perceber-nos.
Acabando por perceber que quero ser para sempre, não quero nada do mundo. Mas sim tudo de mim. Quero ser-me, olhando os outros nos olhos. E na sua escrita. E na tentativa inequívoca de perceber o eu, por intermédio de outros, descubro-me. Pondo isto em letras e frases escritas, ajudo outros assim, a encontrarem-se. Seguindo caminhos diferente, todos vamos dar à mesma estrada.
Para aí, caminharmos lado a lado, de olhos vendados.