domingo, 15 de abril de 2012

Domingo

Nestes últimos tempos tenho tido algumas, senão tantas, perguntas existências. Dizem este ser um luxo dos poucos ocupados, preguiçosos até. Pela vida, tenho encontrado paredes, trabalhos, ocupações. Esta é a palavra que mais me ocupa, -ocupações-.

Só nos ocupamos porque não temos nada para fazer, mas por isso mesmo este zumbido. Temos nós, na verdade, algo para fazer.(?) O que me interessa a diferença no mundo, um ibloco a mais, e puff: eis a diferença que fiz no mundo.

Os olhos abertos não vêem, o que os mesmos fechados tentam cheirar, ouvir, sentir. Sinto a pureza do sol irritadiça, atirando com tornados à terra, a ver se acordamos. E nós,

Será que queremos, acordar?

Olha á volta, dando tantas voltas até ficar zonzo, e depois decide ocupar-se. Pois depois de passar a zonzice, vejo que a roda não pára de rodar, mais em si, o significado deixa de existir.

Mas algo não me larga, esta necessidade de algo, de fazer algo, de acabar algo, de atingir algo, de algo. Vida é terra, rodando eternamente, e tu, interiormente, sabendo que um dia, deixará de rodar, o sol a exterminará, a vida parará, e recomeçará. E aqui, neste preciso, piscar de olhos, inconscientemente desconceito isto.

Por isso não me digo deus
mas digo-te adeus.

Que a distância
dos diabos aos céus
é tanta como a errância
do significado dos pensamentos meus.

Sem relevância.

sábado, 14 de abril de 2012

Wish You Were

 


"Lets go
so so you think you can tell
heaven from hell
blue skies from pain
can you tell a green field
from a cold steel rain
a smile from a fair
do you think you can tell
did they get you to trade
your heroes for goals
hot ashes for trees
hot air for a cool breeze
cold comfort for change
did you exchange
a walk on part in the war
for a lead role in the game

lets go
how i wish, how i wish you were here
we´re just two lost souls swimming in a fish-bowl
year after year
running over the same old ground
but have we found the same old fears
wish you were here

how i wish, how i wish you were here
we´re just two lost souls swimming in a fish-bowl
year after year
running over the same old ground
but have we found the same old fears
wish you were here"

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Devagar, Devagarinho


"É devagar
 É devagar
é devagar devagarinho
É devagar
 É devagar
É devagar é devagar devagarinho
Devagarinho é que a gente chega lá
Se você não acredita você pode tropeçar
 E tropeçando o seu dedo se arrebenta
 Com certeza não aguenta
E vai xingar
Eu conheci um cara
Que queria o mundo abraçar
Mas de repente deu com a cara no asfalto
 Se virou olhou pro altoCom vontade de chorar
Sempre me deram a fama
De ser muito devagar
 E desse jeito vou driblando os espinhos
Vou seguindo o meu caminho
Sei aonde vou chegar"
by Martinho da Vila

domingo, 8 de abril de 2012

"Even. if you forget the world, the world may never forgive you."
Conhecer-se é Errar 

 O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra.Conhecer-se é errar, e o oráculo que disse «Conhece-te» propôs uma tarefa maior que as de Hércules e um enigma mais negro que o da Esfinge. Desconhecer-se conscientemente, eis o caminho. E desconhecer-se conscienciosamente é o emprego activo da ironia. Nem conheço coisa maior, nem mais própria do homem que é deveras grande, que a análise paciente e expressiva dos modos de nos desconhecermos, o registo consciente da inconsciência das nossas consciências, a metafísica das sombras autónomas, a poesia do crepúsculo da desilusão.
Mas sempre qualquer coisa nos ilude, sempre qualquer análise se nos embota, sempre a verdade, ainda que falsa, está além da outra esquina. E é isto que cansa mais que a vida, quando ela cansa, e que o conhecimento e meditação dela, que nunca deixam de cansar.

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'