terça-feira, 17 de maio de 2016



Estive a reler o meu Blog. E entre profecias concretizadas e palavras de gente grande, sinto que envelheci seis mil anos.

Mas as lembranças são boas, as amarguras minhas foram escolhas, vivo e convivo com elas.

Por isso sim, daqui a duas semanas tenho que ir, uma vez mais, de viagem.

Norte de África, Tailândia, México. Tudo isto está em cima da mesa e daqui a uns dias decido.

As muitas cidades de Itália foram lindas, mas desta vez preciso de sorrisos, palavras desconhecidas, noites perdidas.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Estou perto, dentro de um caos maior que uma Supernova, de aprender a ser em paz. 
Quanto 
tempo irá durar este semi-silencio. Está tudo na nossa cabeça, uma vida, mil vidas, misturadas entre desgostos, mortes em duelos, de costas voltadas, a caminhar em direção ao pinhal. Todo ele em chamas, um tornar, cento e oitenta graus, um tiro - a vida foi-se, mas a morte ficou - não existe. Por isso bate, bate-me, sem parar, um coração em busca de sangue, de oxigénio, do canto de um pulsar, de um tomar, o dito pelo não dito. Amar.

A ineptidão da vida, a sua finitude, atormenta-me mais e mais. Por um lado rio . mais do que nunca. Por outro um mar de lágrimas. Sem coerência no gritar, prefiro não escutar. Escrever é bem mais fácil, música, quarto escuro, cama. O Baixo em tons demasiado altos - para ouvir sem recear o vizinho. Acordar.

Que riscos valem a pena correr, que filhos ter, que sementes plantar, que legado deixar. Não há grandeza altruísta que justifique encher o peito. Tenho dois diabos mascarados de inimigos um do outro. Na verdade, conhecem-se melhor do que ninguém. Um diz, Cresce. O outro, Nunca serás grande o suficiente para amadurecer. De podre já caíram a maior parte das minhas tristezas. Só me falta germinar.

Na verdade sou profundamente triste, por me sentir tão feliz, tão indiferente. Todas as dores dos meus parecem-me inúteis, pré-concebidas, sem medidas. Um rasgo nas calcas, de tanto cair, faz-me querer despir, andar nú. Mas se todos os tolos fossem reis, teria eu a coroa maior?
Falta-me empatia para querer reger um reino de loucos.

Haverá alguma construção social, que nos faça sentir abrigados. Algo, que nos faça querer crer. Religião é um ladrão, um monstro escuro, mascarado de luz, escondido em livros negros, mas isso são panos para mais mangas. Ou calcas, rasgadas. De tanto correr, cair, cozer, fugir.

Então o que sobra? 
A esperança, de numa realidade paralela, a coragem, a ausência da chantagem, da desvantagem, à sua imagem. Feitos para errar, eu descobri que estou aqui para nascer, e depois morrer. No meio há o haver, sem sentido de ser. Ser.

P.S.: Desde janeiro que trabalho com rapazes refugiados. Tomo conta deles, ajudo-lhes nos trabalhos de casa, como e brinco com eles. Mas principalmente falo de bola, eles adoram bola, que substituí o Sol, que aqui é tímido. São miúdos menores de idade que chegam à Europa sem família e sonham com uma vida melhor. Sem o barulho dos fogos de artificio. Trazem estórias de superação que me tiram o ar. Este trabalho tem-me dado uma luz interior que pensava ter perdido à muito. E mesmo que por vezes lhe cuspa de raiva, continuo a acreditar que existe um Deus, feito apenas de luz, que nos conduz. E é por isso que todas as noites, ao me deitar, agradeço. Os pedidos deixo para quem realmente precisa. Perdidos no mar.