Está velho. Muito velho. A voz dele ao telefone tem um timbre parecido com aquela que me lembro, mas o tremer e a ponta aguda que ouço fazem-me olhar para dentro e ver o vazio nos olhos. Aquele vazio que me proibiu sequer pensar em casar. Que me fez, a certa altura, sentir incapaz de ter uma família, assentar, e adoptar os meus sobrinhos como filhos, como se o pacto fosse nítido para todos.
As razões são tantas, que só me comecei a lembrar da minha infância quando tinha cerca de vinte anos. Era um terror, uma guerra santa todos os dias, contraponto o anjo que era quando estava sóbrio. A minha mãe era o seu martírio, o qual lutava com todas as forças que tinha, para não nos deixar naufragar.
Lembro-me de estar no colo da minha mãe, antes de entrarmos em casa do prédio de dez andares, nós no topo. Levar por tabela é ser-se complacente com aquilo que senti quando, naquele dia, como se de um trovão se tratasse, me lembrei desse episódio. E com esse vieram tantos... tantos que nunca falei sobre eles. Era como se o um oceano tivesse caído sobre mim.
Talvez esteja na altura de procurar um profissional, como diz a minha mãe, quando me vê bloquear cada vez que O assunto é assunto.
Recordo-me nitidamente de o sentir velho, muito velho, tão velho... que finalmente teve a coragem de, pela primeira vez, nos dizer que tem saudades nossas e que gosta muito de nós. Parecem estar mesmo aí: as portas profundas do abismo apaziguador.
É isso que me traz de volta a estas páginas. Este meu diário semi-anónimo dá-me um alívio difícil de explicar.
Para completar, o meu irmão disse-me que, em conversa com ele, a explicação para uma vida em tormento foi: depois da guerra, nunca mais foi capaz de ver o bem no ser humano. Eram todos maus, até os próprios irmãos .
E isso, descontrolou-me o peito. O peso dos genes pedrefica-me.
As razões são tantas, que só me comecei a lembrar da minha infância quando tinha cerca de vinte anos. Era um terror, uma guerra santa todos os dias, contraponto o anjo que era quando estava sóbrio. A minha mãe era o seu martírio, o qual lutava com todas as forças que tinha, para não nos deixar naufragar.
Lembro-me de estar no colo da minha mãe, antes de entrarmos em casa do prédio de dez andares, nós no topo. Levar por tabela é ser-se complacente com aquilo que senti quando, naquele dia, como se de um trovão se tratasse, me lembrei desse episódio. E com esse vieram tantos... tantos que nunca falei sobre eles. Era como se o um oceano tivesse caído sobre mim.
Talvez esteja na altura de procurar um profissional, como diz a minha mãe, quando me vê bloquear cada vez que O assunto é assunto.
Recordo-me nitidamente de o sentir velho, muito velho, tão velho... que finalmente teve a coragem de, pela primeira vez, nos dizer que tem saudades nossas e que gosta muito de nós. Parecem estar mesmo aí: as portas profundas do abismo apaziguador.
É isso que me traz de volta a estas páginas. Este meu diário semi-anónimo dá-me um alívio difícil de explicar.
Para completar, o meu irmão disse-me que, em conversa com ele, a explicação para uma vida em tormento foi: depois da guerra, nunca mais foi capaz de ver o bem no ser humano. Eram todos maus, até os próprios irmãos .
E isso, descontrolou-me o peito. O peso dos genes pedrefica-me.