quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Reflexos


Acabo por descobrir que não sou especial, acho que era isso que me faltava, sim, era isso que me faltava. A mera humildade de um simples ser, carnal.


Sobrava-me ternura no acreditar do precipício

Nada fica completo se não completarmos o vício

Nada chega ao fim se não houver um grito final na voz

E quando acabamos há sempre algo mais -a escrever- que nós

Há sempre algo mais, Há sempre algo.


O segredo? qual segredo se toda a gente o sabe

É engraçado o que fazem para nos troçar

E nós deixamos, e ainda pensamos agradar.


Toda a gente sabe correr, descobrir-se onde quiser

Ás vezes falta-nos a coragem, resta-nos a Bendita paragem

A ver os autocarros passar cheios de gente

Fica-nos na memória o futuro,. sem presente


Para onde, diz na frente

O caminho -por- onde ninguém o lê

Mas toda a gente sabe, sim, toda a gente o vê.


e ninguém o lê.


Enquanto fico á espera, nesta paragem

Imagino-me outras vidas, outras miragens


Se quem dirigi não se me abre a mente

Como posso escolher, se nem sei -por- onde vai agente?


Vejam as janelas, ilumidadas sem velas

O caminho é tão mais bonito navegado

Do que só ver na chegada as caravelas


As árvores a baloiçarem, ás vezes a’sobiarem

As aves a cruzarem, as estrelas a chegarem


As crianças em janelas descobertas

Nas suas caras, lembranças sem lamentas

Apenas uma vontade, aqui e ali, um pensamento

Por vezes sonho, uma cartola posta na vida de quem não manda.


As caixinhas vermelhas deixam-me adivinhar lá dentro

A telepatia das plantas em nós, o gritos da terra em chamas sem voz


O Silêncio ensurdecedor das vizinhas saudades, que teima em chegar a sós

Vejo-a ali deitada sem cobertor

esplanada ao luar sem cor

esperando pelo negrume impostor.

.

É a saudade à espera do tempo, ele que não sopra nunca o vento

apenas nos mente ao seu próprio sabor.

Ela que venha, que eu tenho onde ir antes de anoitecer.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Hoje Tive Um Sonho


Apaixono-me tantas vezes, todos os dias quase.


Acho que esta falta de sinceridade, esta falta de amar
Que só me foi dada uma, duas, três vezes...
Está a fazer-me correr para trás, onde nunca estive.


Procuro o inalcançável, na esperança de um milagre
Mas tu já foste, desapareces-te e eu deixei
Esqueci-me de ti, na verdade nunca te esqueci
É tão fácil de perceber que sei que nunca me hás de entender


Aquilo que tinha como puro desapareceu e fiquei eu
O que sou não sei bem, mas também não me importa
Porque se te vejo não preciso nem de mim
E à falta de melhor, continuas a ser tu no pensamento aos céus


Estranho o pensamento que temos de nós
Desatados de cordas invisíveis, apenas credível
Aos olhos daqueles que cegos vêm melhor
Os caminhos do interior, sem mapa nem pistas


Passaram-se cinco anos desde o meu primeiro amor
Mas sinto que apenas se passaram alguns segundos
É como se tivesse ido de vez com a certeza que voltava


Agora apareces tu, desentrelaçada, vejo te na rua
Pestanejo, vês, olhas-me, entendes-me, beijas-me!

Assim, cinco anos depois e esperas que nada tenha passado
E não passou, porque todas as noites (quase) me lembrei de ti
Cada cara na rua via-te e mesmo assim
Vejo-te, reconheco-te, mereço-te.


Será hoje o primeiro dia da minha vida!
Espero que ainda sejas a criança que conheci
Porque eu não mudei nada, apenas o meu todo se construiu
Mas esse tu sempre conheces-te e não te importa nada, pois não.
E ainda bem, porque espero por ti,


quem?


Volto a conhecer-te, lembro-me de ti e dizes que mudei
As palavras já não me correm fluentemente
Nunca precisamos delas, porquê então agora?
Tenho histórias de encantar,. para te contar
Tu olhas-me e só agora me apetece abraçar-te e calar.


Tempo não nos falta, portanto agora só falta esperar
Até as palavras voltarem a surgir, para te ver sorrir.

Nunca não
mais vou sumir, e se for, vens comigo.

Está prometido.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Mundo a Cores

Sinto o pesar do mundo nos meus ombros
Apesar de sentir que este vive de escombros.

Mesmo assim, näo consigo ter pena de mim
apenas das gentes que vivem para lá d'um fim.

Tudo seria demasiado disparatado,
Nada seria levado mais do que ao acaso
No entanto existem momentos de vida
Em que a falta de razäo nos tira a medida
do coraçäo.

Que falta de certezas me afligem a alma
Que falta de coragens me mordem na palma
Que falta de destreza quando nos falta a calma.

Há muito que me custa escrever
Simplesmente porque näo me consigo ver
Sinto tudo à flor da pele e continuo sem esquecer
A racionalidade dos sentidos que näo me deixa adormecer.

Custa me continuar a'ssentir
Apesar de te continuar a sorrir
Todos os dias me revejo a partir
E misturar me de uma só vez ao sair,

da multidäo.

Cinco linhas guardo para os meus
Aqueles que deixei para trás com os seus
Pais, mäes, namorados e avós
Fazem me tanta falta que a sós
Sinto uma saudade do outro mundo,
atroz.

-Mas falemos de coisas bem melhores-
Porque os nossos momentos foram Reis e Senhores

Cada segundo, palavra, aperto
Cada momento, sentido no peito
Cada gargalhada soltada em deleito
Cada pensamento guardado com jeito
Todos os relembro, só admiraçäo e respeito.

Envés de me fechar nesta dor, escolho o caminho do condor
Preciso de luz com cor, para poder apreciar tudo o que está ao meu redor. Sem pudor.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Segredo


Era uma vez uma nota. E era feliz. Porque existia.

E se existia era porque alguém se tinha lembrado dela, deixando-a nascer. Alguém se tinha lembrado dela. Ouvira uma melodia, na voz de alguém que nem sequer conhecia. Mas sentia que já a tinha ouvido, que a conhecia de algum lado, que a tinha dentro dele ou dela, ou melhor, que a queria para ele, ou para ela.

Porque esta estória näo quer ter género, hoje quer apenas ser. Contada. Sem realmente existir, viver ou morrer, quando acabar. Quer ser. Algumas pessoas iräo ler e gostar, outras nem sequer a väo acabar.. outras porém, iräo acabar de a ler apenas para poderem dizer que näo gostaram. Haverá ainda quem irá gostar, mesmo sem a terem percebido muito bem. Por fim, muitas seräo aquelas que nem sequer teräo o desprazer de a ouvir nem a honra de a conhecer. Porque o mundo é assim mesmo, inacabado para uns e demasiado finito para outros.

Mas onde eu ia! Sim, a nota! Existia porque alguém tinha decidido separá-la das outras, torná-la especial, e com um propósito. Mas a nota näo fazia sentido sozinha, porque estava na cabeça daquela que a tinha ouvido. Com outras notas à mistura. Sim, porque tinha sido uma rapariga a descobri-la.

As estórias säo assim, escrevem-se e apagam-se, väo-se construindo, a si mesmas. Mas esta é especial porque fala de uma nota, entäo näo se apaga. Vai se apenas construindo.

Ah, a nota! Foram entäo descobertas, inventadas outras notas, que apesar de näo serem muitas, só faziam sentido juntas, umas diferentes, outras iguais. E faziam lindas sinfonias juntas. E a nota era feliz. Até que a estória começou a passar de boca em boca, se tornou täo longa que a melodia desta acabava e começava de novo, vezes sem conta... Tantas vezes que a nota ficou infeliz, porque cada vez que alguém a ouvia confundia-a com outra nota qualquer. Era apenas mais uma estória. Uma melodia. Uma irmä quase gémea das outras, näo fosse esta nota ter nascido uns séculos antes, e como só se pode ser gémeo se se nascer mais ou menos ao mesmo tempo, esta nota sabia que era especial. Mas mais ninguém o sabia. Entao a nota continuou a fazer o seu trabalho, e de vez em quando gritava para que alguém a Notasse.

Até ao final da estória. Até ao final dos tempos. Até que alguém voltasse a Notar em si. Porque apesar de sempre o ter sido, só o era realmente quando alguém pensava nela. Pela primeira vez. Fazendo-a: Especial. Sem se aperceber que cada nota o é, sempre. Até o deixar de ser. Para aí a música acabar, e a estória também. Até compreender que por mais que queiramos continuar a escrever, chega um momento em que alguém nos pega na mäo e nos leva, a sorrir.

E a música acaba sem que a nota tenha que o fazer, nunca. Porque a melodia vai ficando para sempre, na mente daqueles que a ouviram ser. A rapariga pareceu, mas quem se lembra dela ainda hoje a ouve cantar. E canta também.

Pacto


Porque estou aqui e näo preciso de nada para mo poder indicar.

Todo aquele frenesim, aquele chinfrim, aquela barulheira na minha cabeça minúscula, faz-me crer naquilo que sempre temi.

Estou a um paço do céu, mas preferia ficar na terra.

Näo há nada que me possam dizer. Nada que me possam tentar convencer. Nada que me possa confortar. Nada. Mas esta corda invísivel, que me puxa sem que a sua força seja suficiente para eu levantar os pés, também näo me deixa estar onde quero. Ou seguir outro caminho. Eu. Quero estar em todo o lado, säo apenas duas realidades, porque é que näo as posso juntar, e assim.. Que esgotamento, a falta de contacto com a superficie da realidade. Ou o contacto a mais. Pois agora começo a deixar-me levar pela realidade, e sinto que até agora tudo era sonho, tudo era destino, tudo era simples, tudo era. Tudo. E agora tenho tudo, terei tudo, serei tudo, farei tudo, e näo me apetece nada. Estranho este ser que guardo dentro de mim. E os livros levam-me, a música trás-me, os amigos eternam-me, e eu sigo-me para onde tenho que ir. E hei de lá chegar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Castelo de Areia


Que saltinhos da-mos na nossa cabeca, de pernas para o ar, à espera que a ampulheta chegue ao fim, para a podermos virar. Mas se há dias que vejo tudo claro, também há outros que não encontro nada que me faça sombra. Aqui se vão os dados, lançados ao acaso, jogados sem ligação à lógica, levados pela emoção. Tentação. Pecado. Será? Pensarmos que estamos predestinados a algo, um fado sem igual, que lembra vezes sem conta a saudade dele e a falta do tal sinal.

Tudo muda, quando tudo tem que mudar.

A reminiscência permanece, cresce, multiplica-se. E explode. Está prestes a acontecer e mesmo assim não há nenhum alarme que nos alerte e acorde deste transe frenético. Talvez um dia. Talvez. Se eu me tornar um deles tudo deixe de me fazer confusão e por fim reste o que nos faz procurar. A nossa prisão. Porque estou mais seguro dentro dela do que alguma vez o estarei fora. Mas quem tem medo compra um cão. Um melhor amigo. E o que me falta agora é tempo para cuidar dos outros. E sobra-me demasiado tempo para olhar por mim.

No fim, volta-se aquilo que pedi e esquece-se o que nunca quis.
Tento passar à frente, ser diferente, por saber o que vos vai na mente. Mas se não me sinto demente, será que o destacado serei sempre eu, sem nunca ter verdadeiramente arrancado.

Gosto tanto de andar devagar que ver-vos correr só me faz querer parar e observar