quarta-feira, 7 de setembro de 2022

 Graças a deus que não me tornei escritor.

Para já, escrevo mal. Quando releio o que escrevo, reescrevo e releio, e volto a reescrever e a reler palavra por palavra o que escrevi, até desistir. Porque, no final, são nuances, essas infinitas alterações, as quais não influenciam em nada a qualidade do texto. Muitas das vezes, pioram-no. Melhor assim.

Em segundo lugar, passei a respeitar cada vez mais os escritores e os poetas - e a simples ideia de me tornar escritor é encoberta por verdadeiros artistas a pairar no ar, em cima da minha cabeça, numa bolha cheia de caras, umas rindo-se da inocência, outras condenando a prepotência e arrogância, e ainda outras que demonstram alguma compaixão e piedade, por entenderem que esse desejo à muito que deixou de partir de um lugar egocêntrico, partindo agora de um respeito e uma admiração profunda por todos aqueles que enriqueceram e enriquecem o mundo com o seu dom.

Agora, a leveza do ser ao escrever mal dá-me asas para poder bater à máquina sem reler nem mandar fora infinitas páginas inacabadas por uma palavra, uma frase, um parágrafo ou ponto e vírgula não irem ao encontro daquilo que eu acho que Pessoa entenderia por Escrita. E, para mim, escrever para outros não pode ser menos do que isto: Camões, Pessoa, Lobo Antunes, Nietzsche, Kant, Tolstói, entre tantos, infinitos, outros.

E é graças ao Professor-Tempo que sou  grato por não ter a capacidade de morrer de tristeza, angústia, saudade, amor, traição, tesão. Ou seja, todas essas lindas emoções que transformam um mero mortal num Deus por meio da escrita daquilo que vive cá dentro e apenas os (in)felizes têm a capacidade de transcrever lá para fora.

E é graças a tais divindades que me tornei crente, não precisando eu de estar num pedestal nem de ser adorado, para adorar - Viver.