segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Um bocado de Mim. E de Ti também.


De momento nao sinto nada.

É como se estivesse em transe. De baixo d'água. De vez em quando acordo, emirjo, lavo os dentes, a cara, como, leio, escrevo, falo, ando, fico com sono e pum… entro em transe. Porque este sentimento de tristeza, de saudade, de falta daquilo que é meu, está aqui presente. Mas não se manifesta. Porque eu não deixo. Estou em transe, portanto. E pelo meio, uma macã. Um lavar de dentes, um livro. Um livro não, umas páginas, porque estes livros de hoje em dia são enormes. E no entanto pequenos. Porque sinto sempre um pequeno nó no estômago cada vez que acabo um. E ainda assim: estou em transe.


Percebem o que quero dizer: Sei tudo o que se passa à minha volta, tenho montes de coisas para fazer e faço-as: Durmo, acordo, lavo os dentes, como, leio, oiço musica, vejo televisão, preparo-me para sair, saiu, revejo novos e conheço velhos amigos. Porque tudo não me é estranho e no entanto, cada velho amigo é um desconhecido. Uma parte de mim. Tudo isto num estado de sonambulismo (Ab)surdo. Oiço toda a gente e no entanto não percebo nada do que dizem. Ninguém. Nada.


Não as palavras: Essas são fáceis de perceber. As ideias por detrás delas. Essas é que me fazem confusão. Não as entendo.

-É como me sentisse apaixonado e nem sequer a conheco-.

Depois penso para mim: Não faz sentido nenhum o que dizem. Será porque não sabem o que querem ou simplesmente não o sabem exprimir. Dizem, apenas.

Uma vez ouvi num filme:

"-(...)when people think you're dying, they really listen, instead..."
"-Instead of just waiting for their turn to speak."
Que traduzido quer dizer mais ou menos isto:
Nunca ninguém nos ouve se não quiser alguma coisa de nós.

Agora já não tenho tanta a certeza.


Será isso portanto, pensei. Mas continuo a achar que será esse, a haver algum!, o maior fracasso da humanidade -ou, a haver uma!, a sua maior virtude-: A dificuldade -ou faculdade- de ouvir o outro, sem pensar no que vamos dizer a seguir. Para o impressionar.

E no entanto, falo. Falo que me farto. Nunca estou calado. Ás vezes até irrito. Mas consigo sempre, e digo isto sem qualquer protagonismo, ouvir alguém: Quando me interesso por essa pessoa. Mesmo que o que essa pessoa tenha para dizer seja apenas: “Olá:”
Se ouvirmos, se realmente ouvirmos, às vezes nesse olá, nesse timbre melancólico ou contente, neutro ou eufórico, sincero ou incongruente, esteja escondido ou exposto a alma da pessoa, aquilo que sente, o que lhe dói e o que lhe falta, e o simples -está tudo bem- já não seja preciso perguntar: A maior parte das vezes fica a resposta à frente da pergunta, então sai um “’tá tudo bem!” como resposta à pergunta que já tinha sido respondida, na voz, no olhar, na postura, no andar.

Apenas ouvir. Custa tanto. Porque às vezes percebemos que não precisamos tanto de falar. Porque o que dizemos é exactamente a mesma coisa que quem olhamos falar disse. De forma diferente. Claro.

E mesmo assim continuo em transe, da qual só saiu quando vejo uma pessoa de quem gosto. Aí calo-me. Depois falo. E nunca mais me calo. Porque o que eu digo é exactamente o que ela quer dizer.

De uma forma diferente. Claro.

No fim, acabo por odiar esta palavra: transe, e mudo-me para um estado de espírito todo importante: ocupado, pensativo. E oiço. Oiço tudo o que tem para dizer, sem, por defeito, esperar pela minha vez de falar.

No entando será este dos textos mais mal escritos que vi escrever, e mesmo assim passei por aqui e li-o, enquanto o escrevia.
Estou pensativo, portanto.


Todos os dias sinto, oiço,. mas esta saudade começa a apertar por não saber como avançar, faz-me gigante a pensar, comprimido no falar, sucinto a escrever, impulsionado a sentir. Por perto.

9 comentários:

x disse...

eu também me vou repetir mas... sim essa sensação de estar não estando sem saber muito bem onde se está é-me muito familiar! mas o crescimento que dai se tira é incomensurável!
bjs

RM disse...

concordo inteiramente contigo, para variar! acho que e' esse crescimento que nos faz querer viver cada vez mais... e apesar de 'as vezes a vontade parecer existir, nao trocava esta sensacao por nada!
bjs

Estranha pessoa esta disse...

E que perto este que me deixou sem folêgo.
...

Espelho!

RM disse...

Fico contente por ter gostado!

x disse...

E o mundo um dia explode, seja ou não sexta-feira 13. Deve ser da aragem! Buuummmm! Foi-se. E eu até sei que vais perceber perfeitamente. hahahahaha

RM disse...

Sim, deve ser mesmo da aragem... Pois claro que percebo! tive medo foi que em alguma altura fossemos nos a explodir, agora tenho a certeza que nao. hahahaha

x disse...

nah... como diria o outro, é uma espécie de fait divers... :D

RM disse...

nesse caso acho que seria qq coisa nas categorias do jornal -o crime-... ups... :D

x disse...

Ou como caso de estudo na Science! :D