Parte I
Custa me escrever cada vez mais
Mesmo assim já pensei o que aqui ponho
E com temas pré-definidos não consigo sonhar
Deixar escorrer as palavras para ficar livre de arranhar
Quando explico o que a certa altura já esqueci no sonho
Acredita-mo-nos ser aquilo que vemos
Serão os outros aquilo que vemos deles?
E serão eles aquilo que navegam de si sem remos
Ou viveremos todos numa bola de sabão sem lemes.
Não me explico.
Mesmo que explicasse com uma lupa
Ficariam sempre com uma impressão minha de camada fina
Não me importo.
Pois só quem me conhece me preocupa
Mas no final das contas também eles não me lêm a sina
Quantos sou então:
Pergunto? Não sei responder
A resposta saí-me sem questionar ou sequer se importar
Sou aqui meu mestre em escravo sem ensinar
só aprender.
Tudo o que nos torne algo faz-nos diferentes
Seremos portanto nunca ninguém. Porque mentes?
Fomos sempre alguém na junção das gentes iguais
O sentimento de pertencer faz-nos perseguir materais correntes
Quantos somos:
Algo serei porque como disseram, pensei.
Tudo não serei pois não perguntaria o que não sei
Algo fica portanto como hipótese para determinar a lei
Aquilo que somos amargura aquilo que fomos
Acreditamos no manto do crer em algo não profano
No entanto antes d’outros é a nós que amamos
Sem essa capacidade não nos existiríamos sem amos
Ainda assim lemos algo do extraordinário engano.
Impossível definir-te sem que me julgues fingir-te
Faço portanto a minha escultura dormente e mental
Daquilo que vejo de mim e de ti sem ti nem mim
Porque aquilo que nos imagino não é bem assim
Quem sou e quem és:
Não sei.
Seremos o que imaginamos de nós
A ideologia de viver em cordas sem nós
A destreza de não dizermos bem o que queremos
Será que nos faz falta a palavra e a coragem na voz
As duas sem colagem por medo do julgamento a vós –oremos-
Somos todos um pouco daquilo que somos
Por vezes um pouco mais um pouco menos
Aquilo que retratam de nós em quadros a nus
Ou seremos aquilo que vêm de fora sem luz.
Serei eu aquilo que demonstro de mim
Serei eu aquilo que querem que seja de mim
Serei eu aquilo que imagino ser de mim
Serei eu aquilo que os outros vêm de mim
Serei eu aquilo
Serei eu
Serei?
Sou.
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