quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Faces



Parte I


Custa me escrever cada vez mais, já que de dia me leio e de noite esqueço, sendo que me penso durante segundos que tais, momentos de clareza que me fazem depois do avesso.



Mesmo assim já pensei o que aqui ponho

E com temas pré-definidos não consigo sonhar

Deixar escorrer as palavras para ficar livre de arranhar

Quando explico o que a certa altura já esqueci no sonho




Acredita-mo-nos ser aquilo que vemos

Serão os outros aquilo que vemos deles?

E serão eles aquilo que navegam de si sem remos

Ou viveremos todos numa bola de sabão sem lemes.


Não me explico.

Mesmo que explicasse com uma lupa

Ficariam sempre com uma impressão minha de camada fina

Não me importo.

Pois só quem me conhece me preocupa

Mas no final das contas também eles não me lêm a sina


Quantos sou então:

Pergunto? Não sei responder

A resposta saí-me sem questionar ou sequer se importar

Sou aqui meu mestre em escravo sem ensinar

só aprender.


Tudo o que nos torne algo faz-nos diferentes

Seremos portanto nunca ninguém. Porque mentes?

Fomos sempre alguém na junção das gentes iguais

O sentimento de pertencer faz-nos perseguir materais correntes


Quantos somos:

Algo serei porque como disseram, pensei.

Tudo não serei pois não perguntaria o que não sei

Algo fica portanto como hipótese para determinar a lei


Aquilo que somos amargura aquilo que fomos

Benaventurados alguns pois nem tudo comemos

Acreditamos no manto do crer em algo não profano


No entanto antes d’outros é a nós que amamos

Sem essa capacidade não nos existiríamos sem amos

Ainda assim lemos algo do extraordinário engano.


Impossível definir-te sem que me julgues fingir-te

Faço portanto a minha escultura dormente e mental

Daquilo que vejo de mim e de ti sem ti nem mim

Porque aquilo que nos imagino não é bem assim


Quem sou e quem és:


Não sei.


Seremos o que imaginamos de nós

A ideologia de viver em cordas sem nós

A destreza de não dizermos bem o que queremos

Será que nos faz falta a palavra e a coragem na voz

As duas sem colagem por medo do julgamento a vós –oremos-


Somos todos um pouco daquilo que somos

Por vezes um pouco mais um pouco menos

Aquilo que retratam de nós em quadros a nus

Ou seremos aquilo que vêm de fora sem luz.


Serei eu aquilo que demonstro de mim

Serei eu aquilo que querem que seja de mim

Serei eu aquilo que imagino ser de mim

Serei eu aquilo que os outros vêm de mim

Serei eu aquilo

Serei eu

Serei?

Sou.

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