quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Faces


Parte II

Sou um. Não sou nenhum.

Sou a mistura daquilo que me tornaram

E daquilo que me transmitiram

E daquilo que me é inato: Sou.

O que tenho e o que me deram e o que negaram


Eu sou um pouco de mim

Mas essa parte está tão escondida

Está tão recôndita do meu ver da vida

Que nunca chego a pensar no seu fim


Num mundo em que actos são condenados

E pensamentos são de bom grado passados

Continuo a pensar que nada daquilo que somos

É na verdade o que de nós nas lendas nos contamos


Faço portanto uma síntese do tudo e do nada

Porque não sou nada por inteiro

Sou um pouco de todos, dos bons e maus

Dos delinquentes e dos crentes, dos cegos e dos videntes


Leio tudo o que se escreve e no entanto sou analfabeto

Para ver é preciso antes de mais fechar os olhos e perceber

Que os sentidos servem apenas para confundir e esconder

O erro que se esconde por detrás do já desvendado secreto


Acredito portanto que nunca existimos por completo

Somos miragens daquilo que sempre imaginamos no feto

Que acaba por nascer e apodrecer por não ter o que escolher


Quem irá ser: Alguém influenciado a impressionar sem crer

Fica então a pergunta que não me consigo responder

Posso eu alguma vez viver sem me ver lentamente morrer?

Depende: Se a minha vontade for ficar no coração e não na mente

Posso permanecer para sempre sem nunca me pesar nascer


Serei portanto um pouco de tudo o que desejo querer

Sou um por junção de todos os que me fazem a alma

Nenhum por inteiro pois sobra-me o vazio de novos seres.

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