Parte II
Sou um. Não sou nenhum.
Sou a mistura daquilo que me tornaram
E daquilo que me transmitiram
E daquilo que me é inato: Sou.
O que tenho e o que me deram e o que negaram
Eu sou um pouco de mim
Mas essa parte está tão escondida
Está tão recôndita do meu ver da vida
Que nunca chego a pensar no seu fim
Num mundo em que actos são condenados
E pensamentos são de bom grado passados
Continuo a pensar que nada daquilo que somos
É na verdade o que de nós nas lendas nos contamos
Faço portanto uma síntese do tudo e do nada
Porque não sou nada por inteiro
Sou um pouco de todos, dos bons e maus
Dos delinquentes e dos crentes, dos cegos e dos videntes
Leio tudo o que se escreve e no entanto sou analfabeto
Para ver é preciso antes de mais fechar os olhos e perceber
Que os sentidos servem apenas para confundir e esconder
O erro que se esconde por detrás do já desvendado secreto
Acredito portanto que nunca existimos por completo
Somos miragens daquilo que sempre imaginamos no feto
Que acaba por nascer e apodrecer por não ter o que escolher
Quem irá ser: Alguém influenciado a impressionar sem crer
Fica então a pergunta que não me consigo responder
Posso eu alguma vez viver sem me ver lentamente morrer?
Depende: Se a minha vontade for ficar no coração e não na mente
Posso permanecer para sempre sem nunca me pesar nascer
Serei portanto um pouco de tudo o que desejo querer
Sou um por junção de todos os que me fazem a alma
Nenhum por inteiro pois sobra-me o vazio de novos seres.
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