Em plena luz do dia: uma tortura, um repensar, um ódio ao ódio, algo que me faz recriar fantasmas, entes-não queridos, os quais afogo uma e outra vez, sem nunca parecerem morrer. Ou melhor, renascem sempre que dou um banho no lago escuro que me chama como amigo de longa data.
Instantaneamente, a luz do dia compromete a minha sanidade, pois traz ao de cima monstros da noite, Escuro, Abismo, Vertigem sem fim. Serei eu algum dia capaz de caminhar sem olhar para trás.
Há amores que nunca acabarão e arrependimentos que duram para sempre. Mas, ocasionalmente, a paz: é por isto que me afogo em trabalho? Para torvar lembranças de um futuro que um dia construí e vivi, muito antes de aceitar as minhas autoimpostas barreiras metafísicas?
Por vezes sinto a cabeça tremer, em pleno dia, uma sacudir interno, como uma reprogramação, um abanar celestial, eu que durante décadas me refugiei em Deus e o mesmo número de anos o refutei. Agora, vivo no limbo.
Mas há fantasmas, amigos, que me amam e odeiam ao mesmo tempo, e isso faz-me sentir vivo. Tão vivo. Fantasmas em pessoas com uma ligação que só pode ser transportada pelo vento à velocidade da luz.
e eu voltei a rezar pela paz de espírito de todos aqueles que me odeiam, principalmente aqueles que me odeiam porque me amam. Tanto à imagem de mim próprio. Egocentrismo no seu estado mais puro. Tanto que o Altruísmo fica invejoso. Haverá, de fato, amor incondicional, pergunto-me, sem que esse amor signifique amar por querer ser amado.
Enquanto escrevo estas palavras, volto a acreditar no amor, pois realizo que existem muitos mais a quem amo de que a mim próprio. Mas já não me condeno diariamente, pois aceitei a minha condição humana. Mesmo estando condenado a ser muito mais do que a maioria.
Parece estranho, mas lá está: egocentrismo. Vertigo.