sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Praia da Joana

A minha Joana.

Perdeu o chão, o dia escureceu e aquilo doeu. Partiu-me o coração.

Que dor, que vontade de ser eu. Não. Não consigo imaginar um amor, um carinho destes, aquilo que um dia foi no dia a seguir já não o é. E o que fazer a não ser dizer aquilo que não estamos a sentir. Faze-la sentir bem. Sem crer, magoamos-a cada vez que dizemos que a percebemos, que sabemos pelo que está a passar. Que tudo há-de ficar bem. Mas não vai. Nunca. E como é que eu lhe digo isso sem a fazer de isco para o seu próprio precipício. 

Um dia vai passar, mas vai ficar. Aquele amor que não quer ir mas teima em maltratar. E ainda bem que foi. Foi-se. E pode nunca mais voltar. Mais uma vez. Nunca. O que te posso dizer sem ser que o vais vencer quando não sei o que estás a sentir. Não sei.

Peço-te, em nome do nosso amor, que o deixes e sigas aquilo que te faz feliz. Corras em direcção ao mar e vejas a felicidade num barco a flutuar, um peixe a nadar, as ondas a rebentar.  Por fim desistas de lutar, aceites o que não podes mudar e sigas em direcção a quem te quer bem. Mesmo bem. Eu sei que dói. Mais do que a mim, e isso não me é imaginável. Ninguém devia poder sofrer assim. Mas pode. E sofre. Agora só nos resta lutar. Vem, eu ajudo-te. Levanta-te.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Zion


Estava a andar. Não me apetecia estar em casa.

Fui até onde os pés me levavam sem esforço. Não tinha motivos para andar mas também não os tinha para parar. Decidi continuar. Fazia vento mas tinha trazido um casaco. chutava as pedras que estavam no chão. Pensava. Em mim. Em ti. No mundo. Aliás, acho que não pensei muito, porque tentei não raciocinar. Apenas divaguei. Sim, divaguei. E gostei. Ver o mundo, sem um pensamento julgador. Imagens nítidas, um lago, patos, relva, arvores, verde. Vida. E que bom que foi. Sentir-me livre de tudo, nem que aquele instante, aquele segundo em que vi o mundo como ele é tenha sido curto. Mas durou. Sem lentes, sem ideias pré-definidas. Nada. E naquele segundo, Tudo. Adorei. Agora volto à realidade. Mais aliviado. Menos pesado. Melhor. Ufa. E que bem me fez. Parece que me estou a apaixonar.

Apetece-me

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mundo meu. Espelho meu.


A minha cidade.


Na minha cidade existe de tudo. 


Rapazes na rua a pedir escudo, para comer, sem vontade de aprender. 


Gente grande e muda que deixa tudo na mesma. Não vá o diabo tece - las. 


Gente que se veste de escuro para mascarar a falta de cor interior. 


Gente que quer ser grande e usa roupa maior que a sua estatura. 


Raparigas que se despem quando ainda não têm idade para se deitarem sozinhas. 


Gentes que se se preocupam mas não têm tempo para agir. 


Gente que age mas não tem tempo para se preocupar. 


Gentes que moldam o mundo, mas não têm coragem para agir sob pena de a gente se rir. 


Há ainda gente que não é ninguém, que sofre tanto com o seu mundo que se esquece de ter alguém a quem chamar. Meu bem... 


Gentes que mudam o mundo para assim o deixar igual, porque só mudamos aquilo que é nosso. O nosso quintal. 


Gentes que têm o mundo nas mãos e decidem dá - lo ao Senhor do testamento, porque na verdade estão atrás da Sua 

incógnita herança. Vidas ao vento.  


E de repente, no último dos dez minutos terrestres, parece que ficamos todos sem tempo. 


E no entanto, nunca houveram tantos génios a despontarem pelos cantos. Ratos. Fartos. 


Um dia haverá uma revolução, igual a tantas outras desta nação. Sem razão. 


Porque a geração passa e fica apenas o sem significado de uma acção, e a partir dai volta - se tudo e tomam conta de nós A trinca de Adão. 


Por fim, há pessoas com um significado especial, guardados no seu espaço sideral. Sem igual. 


Há pessoas que existem simplesmente para nos fazerem sentir especiais. 


Essas pessoas, os essenciais, vão e vêm em cada mil anos, e um segundo na sua companhia vale cada um deles passados à sua espera. 


Por isso, para quê desanimar, se o que tenho guardado tem a certeza que a vou encontrar. A minha especial. Especiais. 


Sem que os demais se sintam inferiorizados, porque quando o sol brilha é mesmo para todos. 


E a sua luz fica, mesmo quando se faz noite. 


E desponta em nós algo de tão inexplicável que é impossível absorver tudo enquanto estamos cientes. E depois sonhamos. E aí sim, acreditamos. Estamos vivos.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Sentido Único


O hábito faz o monge.


Estava na dúvida, sem perceber a intenção. 

Por algum inexplicável sopro da minha razão

As palavras pareceram - se todas sem noção

E aquilo que senti foi como um simples não.


Faz-nos bem sonhar, faz - nos bem acordar.

Eu prevejo desde já a birra que vou fazer

Quando me erguer desta cama de prazer

Agora... sinto que há um pouco mais a dizer.


Tenho que expulsar estes demónios meus

Já não são bem vindos, os erróneos aos céus

Eu oiço de tudo. Mas não me iludo nem julgo

O vulgo saber sem o querer compreender.

Vou lutar pelo meu lugar ao sol. Sem parecer

Sinto os pés fugirem, o chão flutuar

Sentimentos a borbulharem em meu redor

Gentes a sussurrarem que posso e devo melhor

Olho - os. E apenas vejo mentes incandescentes, sem ar.


Que bater é este que se faz ouvir sem pedir

Que sufoco vem sem anunciar, fazer - me rir.

Tormentas avizinham - se mas vejo - me calmo

Chamas em alto e bom som queimando o elmo.


Existe momentos para tudo

Aquele instante em que o sim

Decide em si e um não dita. O fim.

É interessante ver - nos perder o escudo.

O medo toma - nos conta sem o crer

Ele existe mesmo debaixo da cama

Ele é o papão que nos faz chorar e bater

Na almofada com a cara sem destino

Como a violência de quem cai na lama.


Espero por chorar, sorrir e encontrar

Antes de chegar a altura do meu pesar

Estou gordo demais para correr

E magro de mais para parar de tremer.


São passos dados na direcção correcta

Porque em nenhum deles andei para trás

Sei que qualquer dia hei-de passar a meta

Sem meias voltas, parto para a guerra da paz.




À mesa perguntam - me o que vou desejar beber

Digo que nada, porque esta sede sente - se por a ter.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Aromas


E agora, um momento único.

O mundo é um lugar bonito.

Tão bonito que o trinco

em cada lufada

de ar quente

em cada madrugada

a andar sem gente.


o crepúsculo,

de mãos dadas num banco do jardim

as gentes, contentes luas, nas ruas,

por ondas às voltas nas praias nuas

pela deserta das mentes.


O gelado, o chocolate, a música.

Ai a música, as letras, os sorrisos

A inocência, a trapalhice, a carência

criança.

O toque. Adoro mãos. E dadas.


Tenho que sonhar para não acordar


Mas continuo a ter medo

Faz parte de mim e vou lendo

O que está escrito em ti. No fim

será sempre assim que quero o sim


Tenho dez letras que procuro

Que não digo mas desvendo

Ao mesmo tempo que as vou encontrando 

no clarear do meu singelo escuro.


Vale a pena voar mesmo para no fim cair e m'agoar.

O que vemos lá de cima é tão bonito, que se torna tudo menos esquisito, de olhar.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

hoje Sou eu!


Sinto me perder num mundo de fútil iguaria.

Deve ser porque o vou sumir. Mas se vou pra algo melhor, porquê esta nostalgia.

Vou ter saudades dos meus amigos. E dos meus pseudo-inimigos. Este meu pequeno mundo.

Mas as gentes, essas são iguais, em todo o lado. Mas os meus amigos não. Eles são especiais.

Apetece-me chorar, agarrar tudo pelos cabelos, gritar e por fim. Aceitar. O que não podemos mudar. Quero mudar o mundo. 


Amanhã.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Há Dias Assim


É como se de repente tudo se tornasse mais claro à medida que as marés avançam. 


É como se soubesse o que vou fazer, o que todos vão fazer e estivesse numa esplanada, a conversar, a ver as gentes passarem enquanto bebo café.



Sei que vou perder a minha identidade, quando me for embora daqui.

Mas há coisas mais fortes que nós e outro país não é outro mundo. Embora às vezes pareça. 


Por isso não guardo ressentimentos à vida, porque sei que tudo o que quis foi ser feliz.  E vou sendo. Fui. Sou. E Serei. Sei que também já fui infeliz mas nunca lhe dei importância e acho que é por isso que ela se vai embora de cabiz baixo. E só volta quando fui tão feliz que lhe sinto a falta para me sentir vivo.


Agradeço cada segundo que passa simplesmente por estar e senti-lo passar. Porque sei que o resto é comigo. Agradeço não ter nascido rico, nem rei, muito menos príncipe, presidente, chefe, escravo, doente, medonho, triste.


Por vezes penso mas por agora deixo isso para os outros, porque o que eu quero hoje é sentir para poder adormecer sem fim.

Dizem que quem muito pensa acaba por se afastar, de se isolar do mundo, achando tudo enfadonho e triste.


Eu adoro o mundo, com toda a sua insensível loucura que me faz chorar de tanto rir, e rir para não chorar. E não quero perder isso.


Não quero nunca me afastar, desistir ou chorar para não lutar. Quero sim sempre tentar e nunca começar. Porque quem começa tem o dever de acabar.


E eu não quero nunca que isto acabe.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Conquistas


Não há critérios nos mistérios


Esqueço me da vida, quando chega a despedida

É chegado o momento da partida sem tempo

Aquele segundo em que o simples pensamento

Se torna mais forte que o julgamento da corte


A partir daí, e porque sim, canso me de ser julgado 

Vivo cada dia de encontro àquilo que acredito

Sem dizer que não aceito o que me é dito

Prefiro manter me com o já conquistado


As derrotas fazem parte do sabor da vitória

Mas por vezes custa tanto lutar por um dia de luar

Que ao deixar de sonhar sei que me vou cansar de olhar

E começo a procurar uma nova maneira de ler a minha estória


Volto a adormecer e sem mais nada querer

Abstenho me de tudo para não me perder

Aquilo que tenho como certo no meu peito

Em nada me tira a alegria do meu ser incerto



E no entanto, existem opostos para todas as nossos (des)gostos.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Pegadas


E de repente, tudo o que tinha como certo limitou se a mudar de rumo. 

E eu escureci.


Tanto que quando tudo é guardado para aquele momento, 

os momentos são apenas entretantos. 


As certezas foram se e sobraram as enseadas. 

Será portanto o crepúsculo o que me poderá esclarecer deste anoitecer que se abateu como nunca antes teve coragem de o fazer. E é meu.

Sabia que o era, mas de repente deixou me e seguiu caminho, deu me boleia e agora largou me à berma da estrada gritando me para ir a pé até ao próximo motel.


Agora, vou descansar e sonhar. Desta vez bem acordado e com as letras na mão, para que as contas não saiam defraudadas de antemão. Por fim, envés de viver de fora para dentro, terei de caminhar do penhasco para o centro. Afinal de contas, terei de me deitar de peito para depois poder levantar me e olhar.


Sem crer, projectei de mim tão longe, para chegar ao principio da minha própria canção, que terei de reinventar a sinfonia sem harmonia.


E o espectáculo tem de continuar porque no fim ninguém me irá completar, se eu parar.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sonhos Esquecidos


São momentos de uma noite sem luar

que me trazem à memória a falta de ar

Aqueles momentos que preferimos calar

Sem mais queremos, decidimos tentar.


São segundos de exaltação e ira

Pensamentos disparados sem mira

Com apenas uma intenção na gíria

Provocar as palavras pela mentira.


Sem um propósito penso numa distracção

Que me leve para longe desta inútil discussão

Mas tu trazes contigo a vontade de ouvir não

E eu digo o contrário daquilo que te dá tesão.


Os argumentos deixam de fazer sentido

Olhas para nós como um vidro partido

Somos tudo menos aquilo que tenho lido

Nos teus olhos e consciência de anjo dorido.


Faltam poucos momentos para o fim

O palavreado esgotou se, salvou se o sim

Mas eu espero que não o digas assim

Espera pelo anoitecer e volta para mim.

domingo, 6 de julho de 2008

Ponteiro


Terá O destino algo de intransponível pressuposto, ou apenas a função de ser possível, se fizermos por isso?



Sinto o tremer cada vez que a pressinto chegar, 

a oiço falar ou a penso tocar. 

Não é nada que ainda não tenha feito sem pensar, 

mas cada pensamento é singular. Singular, 

porque me faz sonhar e porque me faz caminhar... 

Por isso caminho, sem saber bem para onde me dirijo 

Caminho.


Toda a gente sabe o seu destino. 

Alguns temem ser seu dono, 

outros escondem-se dele no sono. 

Outros porém rejeitam-no por não o acharem digno do desatino.

O próprio destino, 

mais poderoso do que qualquer outro pensamento ou acção segundo Platão, 

torna-se indigno de alguém de coração. 

Por isso lutam e fraquejam, 

lutam e vencem, 

mas nunca se sentem satisfeitos com o que são. 


Somos nós, gente!, 

que traçamos o nosso destino. 

Mas o Caminho, 

esse à muito que está construído,

como um ninho, á espera de ser utilizado, 

chocado e depois destruído. 


Alguns são contra o destino por lhes tirar o poder de decisão.


Se eu pudesse fazer tudo o que quero, 

não haveria pessoas especiais, 

dotadas e simplesmente indicadas, para certas tarefas. 

Prendadas. 

Mas cada um tem a sua tarefa, 

em função do ar que entra e sai do seu próprio pulmão.

 

Podemos entender o que quisermos de destino, 

seja religioso, ateu ou ou apenas humano. 

Mas se cada um de nós tem algo a oferecer, 

não será essa mesma a sua função:  

tornar o mundo menos mundano.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A Minha Arte de Viver


Não sou mais que um iliterato que aprendera a ler, não sou mais que um felizardo que teve a possibilidade de me conhecer. 


Sou por isso apenas mais um apavorado, sem medo de viver, tendo me perdido sem correr.


A minha arte de viver tem tudo haver com aquilo que penso ter mas, como a razão, não consigo ver. 

Viver sem estilo, tranquilo, tornando me pupilo do meu mundo na forma de uma verossímil Utopia, num cubículo.


Ter prazer sem querer e assim me perder, sem nunca desejar acordar nem adormecer. 


Por isso aceito palavras d'outras gentes, ao ouvir penso e repenso, mas já não desalento quando não as imito e por isso emito um som abafado e quente. 

Um grito tão surdo e simples quanto inconsequente.



-Por mais que tente o que faço já não condiz com o pensamento da incoerente meretriz ou com o gesto do meritíssimo juiz.-


-O juiz é a gente que faz a roda e a meretriz é o que gira á sua volta, a moda.-


-O justo juiz que no  fim não sabe o que fez e me faz pensar "porque aceitei o que nunca quis"; a subtil meretriz que tenta ser original, acabando por imitar os feitos passados, parecendo sem astral.-


'...Muito mais do que penso e muito menos do que aquilo que gostaria de ser...'